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EXPOSIÇÃO: “onde a erva murmura”,
de Ana Torrie
Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense
04 Jul > 31 Out 2020
“Deixai toda a esperança, vós que entrais!”
Dante Alighieri, “Inferno”
de Ana Torrie
Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense
04 Jul > 31 Out 2020
“Deixai toda a esperança, vós que entrais!”
Dante Alighieri, “Inferno”
“Onde a Erva Murmura” é o título de uma exposição de Ana Torrie que, desde o passado dia 04 de Julho, se encontra aberta ao público no acolhedor espaço do Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense. Através do conjunto de obras expostas, a artista convida-nos a uma viagem a um mundo fantástico, tornado real pelo reconhecimento dos nossos próprios medos, do nosso próprio eu, em cada uma das figuras que nele habitam. Que se prepare o visitante para encetar a travessia de vales de vento, lagos de lama, colinas de rocha afiada, rios de correntes iradas, cascatas de sangue e cemitérios de fogo, numa viagem ao mais fundo de si, essa espécie de “submundo Dantesco” onde a maldade reside e que, conflituando com o mundo em que vivemos, há muito nos faz enveredar por um processo auto-destrutivo de verdadeira descida aos infernos.
Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com Mestrado em Desenho e Técnicas de Impressão e uma Pós-graduação em Gravura, Ana Torrie tem no desenho a base do seu trabalho. Não espanta, pois, que a primeira peça desta exposição seja um Livro de Artista ricamente decorado a tinta-da-china onde se podem apreciar os esboços de “onde a erva murmura” sobre um livro impresso em hebraico. Nele encontramos um conjunto de sinais que prenunciam o vasto cenário onde se espelha toda uma paleta em tons de negro que se adensam e se aprestam a engolir-nos. A partir daqui tudo pode acontecer.
Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com Mestrado em Desenho e Técnicas de Impressão e uma Pós-graduação em Gravura, Ana Torrie tem no desenho a base do seu trabalho. Não espanta, pois, que a primeira peça desta exposição seja um Livro de Artista ricamente decorado a tinta-da-china onde se podem apreciar os esboços de “onde a erva murmura” sobre um livro impresso em hebraico. Nele encontramos um conjunto de sinais que prenunciam o vasto cenário onde se espelha toda uma paleta em tons de negro que se adensam e se aprestam a engolir-nos. A partir daqui tudo pode acontecer.
Assentes na cerâmica, xilogravura, matrizes de cobre e zinco e numa “sonoplastia imersiva de sons gerados a partir de peças da instalação”, os trabalhos expostos remetem para “O Inferno”, de Dante Alighieri, particularmente evidenciado na peça “viagem ao centro da terra”, os nove círculos girando continuamente ante o nosso olhar, repleto de imagens que prenunciam o medo e a dor. Ao longo da viagem, cruzaremos a selva e o monte onde nos esperam a loba, o leão e a pantera; visitaremos os círculos onde penam gulosos ou avarentos, heréticos ou traidores, Caronte e a sua barca à espera; cruzaremos a cidade de Dite, essa espécie de fronteira entre a culpa e o dolo; e, mergulhando no mais profundo da terra, alcançaremos o lago congelado das lamentações, feito das lágrimas dos condenados e dos rios do inferno que nele desaguam o seu sangue.
Se, esteticamente, as obras são de uma beleza ímpar, em termos de conceptualidade este é um trabalho irrepreensível, vivido e sentido em cada momento pelo espectador. A isso não será estranho o facto de nos encontrarmos sob os efeitos de um vírus pandémico e de grande parte destas obras ter sido feita em tempos de quarentena. A carga simbólica é, talvez por isso, avassaladora. Não se pense, contudo, que há neste conjunto de trabalhos qualquer tipo de profecia ou que Ana Torrie seja uma espécie de vector místico que faça questão de nos acenar com o Apocalipse. Muito pelo contrário, a artista vem-nos dizer que os conflitos civilizacionais não são de agora e que há uma besta que nos habita. Mas que nos habita igualmente esse poder de a controlar, de a dominar e de a extinguir. A exposição ficará patente até ao dia 31 de Outubro e, até lá, há todo um programa paralelo que inclui teatro de marionetas, performance, uma conversa à volta do tanque com três gravuristas e ainda uma oficina de entalhe colectivo e participativo à qual todos os visitantes são convidados a dar o seu contributo. A não perder, absolutamente!
Se, esteticamente, as obras são de uma beleza ímpar, em termos de conceptualidade este é um trabalho irrepreensível, vivido e sentido em cada momento pelo espectador. A isso não será estranho o facto de nos encontrarmos sob os efeitos de um vírus pandémico e de grande parte destas obras ter sido feita em tempos de quarentena. A carga simbólica é, talvez por isso, avassaladora. Não se pense, contudo, que há neste conjunto de trabalhos qualquer tipo de profecia ou que Ana Torrie seja uma espécie de vector místico que faça questão de nos acenar com o Apocalipse. Muito pelo contrário, a artista vem-nos dizer que os conflitos civilizacionais não são de agora e que há uma besta que nos habita. Mas que nos habita igualmente esse poder de a controlar, de a dominar e de a extinguir. A exposição ficará patente até ao dia 31 de Outubro e, até lá, há todo um programa paralelo que inclui teatro de marionetas, performance, uma conversa à volta do tanque com três gravuristas e ainda uma oficina de entalhe colectivo e participativo à qual todos os visitantes são convidados a dar o seu contributo. A não perder, absolutamente!
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