CONCERTO: Kronos Quartet
Festival Internacional de Música de
Espinho
Auditório de Espinho – Academia
08 Jul 2019 | seg | 22:00
Passados 45 anos sobre a sua fundação,
o Kronos Quartet partilha com o Festival Internacional de Música de
Espinho o mesmo tempo de actividade. Originária de S. Francisco, a
formação liderada pelo violinista David Harrington, e que inclui
ainda John Sherba (violino), Hank Dutt (viola) e Sunny Yang
(violoncelo), combina um espírito de exploração destemida com o
compromisso de reinventar continuamente as suas próprias experiências musicais.
Neste processo, o Kronos Quartet tornou-se num dos mais celebrados e
influentes grupos a nível mundial, apresentando-se em milhares de
concertos, lançando mais de seis dezenas de registos, colaborando
com muitos dos mais aclamados compositores e artistas e encomendando
cerca de mil obras e arranjos para quarteto de cordas. Foi
precisamente este agrupamento, por muitos considerado o mais famoso
do mundo, que esteve em Espinho na passada segunda-feira, oferecendo
a uma plateia rendida um concerto a todos os títulos memorável.
Mais do que essa curiosa sugestão de
“visão turva causada pela forte luz que atinge a retina”,
“Zaghlala”, de Islam Chipsy, abriu o concerto com a proposta
implícita de uma viagem musical à volta do mundo, da “new wave”
da música Shaabi, verdadeira instituição cultural do Egipto, aos
“Different Trains” que atravessam a Europa e a América, peça que valeu ao compositor Steve Reich o Grammy para a Melhor Composição Clássica
Contemporânea em 1989. Pelo meio, paragens na “casa do Sol
nascente” (“The House of the Rising Sun”, inspirado na versão
dos Everly Brothers), em diferentes estações dos Estados Unidos com
peças de Philip Glass (“Quartet Satz”), Laurie Anderson (“Flow”) e John Coltrane (“Alabama”), no Iémen
com “Ya Mun Dakhal Bahr Al-Hawa”, de Fatimah Al-Zaelaeyah, na
Colômbia com “Tolo Midi”, de Mario Galeano Toro e mesmo no
espaço sideral, com “One Earth, One People, One Love from Sun
Rings”, de Terry Riley. Portugal não foi esquecido, com uma
interpretação sublime de “Os Verdes Anos”, de Carlos Paredes,
já no “encore”.
Na sua simplicidade e quase
despojamento, o Kronos Quartet ofereceu um concerto único,
deslumbrando a audiência pela qualidade da sua música e pela
adequada gestão dos temas propostos. Particularmente significativo é
o facto de muitas das músicas interpretadas serem parte integrante
de um programa educativo promovido pela Kronos Performing Arts
Association, intitulado “Fifty for the Future: The Kronos Learning
Repertoire” e com distribuição online gratuita. Verdadeira
biblioteca de aprendizagem de repertório contemporâneo para
quarteto de cordas, o programa está pensado expressamente para o
ensino de alunos e profissionais em ascensão e foi promovido ao
longo do concerto, com David Harrington a aconselhar os espectadores
a irem para casa, descarregarem as peças e começarem a praticar. Em
suma, um momento de grande música a pontuar com nota muito alta esta
45ª edição do Festival Internacional de Música de Espinho.
[Foto: facebook.com /
auditoriodeespinhoacademia]
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