CONCERTO: “Amoras e Framboesas”,
por Maria João e Orquestra Jazz de
Matosinhos
Ovar em Jazz 2019
Centro de Artes de Ovar
13 Abr 2019 | sab | 22:00
Revisitando o memorável concerto ao
vivo na Casa da Música de há uma década atrás, Maria João e a
Orquestra Jazz de Matosinhos, dirigida pelo maestro Pedro Guedes,
subiram ao palco do Centro de Artes de Ovar com “Amoras e
Framboesas” para a derradeira noite do Ovar em Jazz 2019. Num
auditório bastante bem composto de público, foram interpretados
onze temas, uma boa parte dos quais saídos do cancioneiro popular
brasileiro ou dos standards de jazz norte-americano, mas também de
criações da sensacional dupla Maria João / Mário Laginha e até
um “hit” de Bruce Sprinsgsteen.
Fazendo incidir a atenção na
abordagem a temas incontornáveis do seu universo musical, Maria João
contou com o suporte de uma big band cuja qualidade e virtuosismo
fazem dela o melhor agrupamento do género no nosso País. E assim, o
mínimo que se pode dizer é que as elevadas expectativas geradas
pela reunião do som consistente da Orquestra Jazz de Matosinhos com
a voz versátil e pujante daquela que é, indiscutivelmente, a
primeira dama do jazz português, foram plenamente satisfeitas. De
“Parrots and Lions” (do álbum “Tralha”, de Maria João e
Mário Laginha, publicado em 2004) a “Beatriz”, um tema
profundamente poético, escrito por Edu Lobo e Chico Buarque e
cantado já no “encore”, foram passadas em revista, com a mesma
emoção, paisagens sonoras a variar entre o colorido festivo e o
mais profundo intimismo, todas elas intensa e sublimemente
interpretadas.
Standard incontornável, “Skylark”
foi um desses momentos de enorme delicadeza, a voz sussurada da
cantora num apelo que ascende do mais fundo da alma – “Oh skylark
/ Have you seen a valley green with Spring / Where my heart can go
a-journeying / Over the shadows and the rain / To a blossom-covered
lane” -, o trompete de Ricardo Formoso a sublinhar a poesia do
tema. Na mesma linha, “Lígia”, “Spring Can Really Hang You Up
The Most”, “Torrente” ou “I’ve Grown Accustomed to Her
Face”, este último reconhecendo-se do musical “My Fair Lady”,
foram momentos mágicos, uma enorme doçura na voz a convidar à
contemplação e ao sonho. Em contrapartida, “Surrey With The
Fringe On The Top”, “Flor” ou “Dancing in The Dark” foram
papagaios lançados ao vento, soltos e livres, "à espera que os
meninos lhes cortassem o cordel”. A simbiose entre voz e
instrumentos atingiu a perfeição nesse clássico absoluto da MPB
que é “Canto de Ossanha” - “Coitado do homem que cai no canto
de Ossanha, traidor / Coitado do homem que vai atrás de mandinga de
amor” -, Maria João incrível na articulação das suas múltiplas
vocalizações, a bateria de Marcos Cavaleiro num diálogo
arrebatador com a diva. Bravo!
[Fotos: facebook.com/ovarcultura/]
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