CONCERTO: “Bela Senão Sem”
Orquestra de Jazz de Matosinhos com
João Paulo Esteves da Silva
Novembro Jazz 2018
Casa da Criatividade
30 Nov 2018 | sex | 22:00
Ponto final na primeira edição do
Novembro Jazz. “Bela Senão Sem”, projecto que em 2011 juntou a
Orquestra de Jazz de Matosinhos e o pianista João Paulo Esteves da
Silva, foi a proposta de eleição para o encerramento de um certame
recheado de excelente música, ao encontro de um publico que, como
nos anteriores concertos, praticamente esgotou a sala. É para esse público e para o entusiasmo com que correspondeu às valiosas ofertas desta muito auspiciosa edição inaugural do Novembro Jazz,
que vai a primeira nota de apreço, visto caucionar, com o vigor da sua
presença e o calor das suas palmas, esta nova aposta cultural do
Município de S. João da Madeira. Longa vida, pois, ao Novembro
Jazz!
Do público para o palco, o programa
deste concerto incidiu exclusivamente num álbum cujo nome, jogando
com os mesmos elementos, subverte um trocadilho. Na prática, isto
corresponde à ideia de pegar em material composto por João Paulo
Esteves da Silva, trabalhá-lo com arranjos do próprio e ainda de
Pedro Guedes e de Carlos Azevedo, os dois directores musicais da OJM,
para daí resultar um conjunto de oito composições que se
distinguem pela harmonia dos seus temas e pelo seu carácter
genuinamente português. O piano de João Paulo Esteves da Silva
esteve em plano de evidência, tanto nos diálogos prolixos que
manteve com a orquestra como nos eloquentes e inspirados solos,
reveladores dum apurado domínio musical e dum extraordinário bom
gosto. Foi assim em “Candeia”, o primeiro tema interpretado, como
nos seguintes “Moché Salyó de Misraim” - um casamento perfeito
entre o tradicional e o jazz -, “Fado Chão” e “Bela Senão
Sem”, neste último a concertina a “roubar” ao piano o lugar de
excelência.
Terna e generosa, “Canção Açoreana”
constituiu um momento único de emoção e beleza, as notas
dedilhadas ao piano ao encontro do saxofone tenor de Mário Santos
para um “voo nas asas do sonho” que, para gáudio do público,
viria a repetir-se no encore (que quase esteve para não acontecer).
“Tristo” foi outro momento de enorme inspiração, vivendo em
grande medida do diálogo entre o piano e a guitarra de Nuno
Ferreira, seguindo-se “Fantasmas” - a erudição à flor da pele,
num exercício colectivo de improviso que resulta fascinante no virtuosismo de intérpretes como Daniel Dias ou Andreia Santos, Ricardo
Formoso ou Javier Pereiro – e “Pode Ser Uma Serra”, a
concertina num diálogo requintado com a guitarra, com a bateria de
Marcos Cavaleiro e com o contrabaixo de Demian Cabaud. Verdadeiro
“standard” do jazz português, como fez questão de referir Pedro
Guedes, o maestro nesta noite em S. João da Madeira,
“Certeza” constituiu o fecho perfeito de um delicioso concerto e
de um Festival que colocou a fasquia a um nível particularmente alto. A repetir no próximo ano!
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