LIVRO: “Perguntem a Sarah Gross”,
de João Pinto Coelho
Ed. Publicações Dom Quixote, Abril de 2015
Ed. Publicações Dom Quixote, Abril de 2015
A mim, como certamente a muitos outros leitores, o Prémio LeYa atribuído no ano passado a João Pinto Coelho fez virar as atenções sobre “Os Loucos da Rua Mazur”. Do prazer que retirei da sua leitura e do qual, em devido tempo, dei conta AQUI no Blogue, resultou a curiosidade em conhecer o livro de estreia deste autor, “Perguntem a Sarah Gross”, finalista do mesmo Prémio em 2014. A oportunidade surgiu agora, no final de um ano repleto de tantas e tão boas leituras, a cujo conjunto este livro acaba, necessariamente, por se juntar.
São vários os
pontos de contacto entre os dois romances do autor, nomeadamente a
acção centrada na Polónia em plena Segunda Guerra Mundial, as
motivações religiosas e políticas como fonte de conflito entre
católicos e judeus, a construção da narrativa em tempos paralelos
e separados algumas décadas entre si ou mesmo uma enorme capacidade
descritiva que confere a ambos um cunho marcadamente cinematográfico.
Num aspecto, porém, eles divergem: Enquanto “Os Loucos da Rua
Mazur” lança o olhar sobre um episódio muito particular,
mostrando que o mal está em cada um de nós, em “Perguntem a Sarah
Gross” esta questão do mal é circunstancial e tem implicações
diversas, desde logo ideológicas. É como se, com a escrita do
primeiro livro, tivessem ficado coisas por dizer e o autor sentisse a
necessidade de as particularizar numa nova abordagem, provando assim
a universalidade do mal.
João Pinto Coelho revela aqui a sua
faceta de corredor de fundo. Mostra-se “prudente” nos capítulos
iniciais, mas vai “abrindo a passada” com o avançar das páginas
para terminar de forma avassaladora, num arrebatamento apenas
alcançável pelos maiores. Nesta história que, no cenário
improvável de um colégio da Nova Inglaterra, junta duas mulheres
marcadas pelo passado e portadoras de segredos terríveis, são
muitas as feridas abertas pelo mal que teimam em não sarar. O mérito
do autor está em saber segurar as pontas duma história que é, sobretudo,
uma viagem aos mistérios da alma humana e ao modo como consegue
conviver com os demónios do passado, ao mesmo tempo que nos fala de
momentos felizes, de amor incondicional, de amizades, de
cumplicidades, de superação. Dizer muito mais seria revelar as
extraordinárias surpresas que o livro encerra, pedindo-se ao leitor
que embarque nesta aventura de olhos fechados e de coração aberto,
deixando-se levar pela emoção.
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