CERTAME: Imaginarius | Festival
Internacional de Teatro de Rua
Santa Maria da Feira, vários locais24 a 26 Mai 2018
Com odisseias, viagens, questionamentos, inquietações e dúvidas em mente, o Imaginarius chegou à sua 18ª edição. Ao longo de três dias, Santa Maria da Feira transformou-se no palco mundial do teatro de rua, com 37 companhias / projectos artísticos, mais de 300 artistas de 17 países, 195 apresentações / intervenções artísticas e 170 horas e conteúdos de programação a encherem a cidade de vida e animação e a atraírem milhares de pessoas às suas ruas e praças. Com palcos espalhados por toda a cidade, foi no Rossio que pulsou com mais força o coração do Festival, aí estando sedeados os projectos dinamizados pela Salto International Circus School, com as exibições de técnicas e as oficinas de novo circo a cativarem sobretudo os mais novos e a induzir neles a vontade de fruir e de descobrir outras formas de ver e sentir o fantástico universo do circo. A Arte.Descoberta, com as suas propostas “Ilustrar com linhas e Agulhas” e “Desenhar no Imaginário”, foi igualmente um catalisador de vontades e interesses de miúdos e graúdos. Ainda no Rossio, foi possível acompanhar o resultado do projecto que Daniel Seabra e Noé Quintela desenvolveram com os alunos de Animação Sociocultural da Escola Secundária Coelho e Castro e intitulado “Fractions of a Whole”, um espectáculo que soube combinar da melhor forma o teatro, o circo e a dança, proporcionando a criação de quadros de grande beleza estética.
Detalhando algumas propostas do
Festival, V.O.G.O.T. , do Duo Masawa [Argentina / Itália],
trouxe-nos um espectáculo de circo e dança bem arquitectado, um
cheirinho de “pecado original” na sua proposta dramatúrgica,
embora esbarrando numa coreografia pobre, demasiado lenta e
repetitiva, fazendo com que os 20 minutos parecessem uma eternidade.
Já a Compagnie du Paon [Turquia / Suiça] ofereceu ao público a peça “Hayali” (“imaginário”, em turco),
um belíssimo espectáculo de fusão entre a dança e o teatro,
apoiado em adereços muito simples – quatro caixas de madeira –
para evidenciar a complexidade das relações humanas e o seu mais do
que instável equilíbrio. Também na área da Dança, os espanhóis
da Cia. Si Tu T’Imagines mostraram “Sommes Nous?”, uma
apresentação enérgica, ritmada e divertida dos estados da alma, numa revisitação do amor ou do desprezo, da esperança ou da fantasia, do sonho
ou da posse.
Num espectáculo com o mesmo nome, o
Cirk Biz’Art [França] proporcionou alguns dos mais divertidos
momentos desta edição do Imaginarius, propondo uma performance que
fundiu teatro e circo e viveu, em grande medida, da interacção com
o público. Inesquecíveis as sequências do combate de boxe, do
número de sapateado ou da levitação, não menos inesquecíveis o
confisco dos telemóveis ou a paixão tórrida entre a actriz e um
espectador. Com “Tartf Lkhobz”, levada a cabo pela Accroche Toi
Company [Marrocos], as causas sociais e políticas fizeram questão
de marcar presença no Festival, a acção a desenrolar-se num
estaleiro de obras, os actores a fazerem um aproveitamento notável
do espaço, dos materiais e das suas próprias qualidades físicas e
técnicas para oferecerem momentos de teatro, dança, parkour e
circo ricos de significado, belos e intensos na sua concepção cénica
e dramatúrgica. De causas nos falou também o espectáculo “1986”,
do colectivo Skandalisi Dance [Rússia]. 1986 é o ano do desastre
nuclear de Chernobyl e este espectáculo intenso e belo reflecte as
preocupações ambientais do grupo, convocando a reflexão sobre os
efeitos da intervenção do homem na natureza e os desafios que se
colocam à sobrevivência da espécie.
Pese embora a honestidade das
propostas, outros espectáculos houve que se revelaram menos interessantes ou apelativos, quer pelos assuntos abordados,
quer pelas opções dramatúrgicas e cénicas, sendo o concerto dos
holandeses Blaas of Glory, na tarde de sábado, um exemplo flagrante
de desadequação dum espaço a um espectáculo, deitando por terra
fundadas expectativas do público num momento bem passado. “Houston,
We Have a Problem”, do português Telmo Ferreira, será outro
espectáculo menos conseguido, com uma proposta de teatro físico
recheada de clichés banais, pouco imaginativo e com um par de actores inseguros. O mesmo se poderá dizer dos
espectáculos “Moon” e “Gigante”, respectivamente dos 2Faced
Dance Company [Reino Unido] e La Pequeña Victoria Cen [Espanha]. Uma
última nota para dar conta do espectáculo “Hanno”, dos
portugueses Rina Marques & Rui Paixão, o grande momento do
Festival e, entretanto, já abordado em mensagem anterior [AQUI].
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