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sábado, 29 de julho de 2023

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Coletivo de Imagens Avanca 2023"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Coletivo de Imagens Avanca 2023”,
de Adelino Marques, António Teixeira, Fernando Martins, Flávio Andrade, Gustavo Gama, Hugo Almeida, Jean Pierre de Aguiar, João Tavares, Lauren Maganete, Luís Romba, Luis Coelho, Jorge Pedra, Júlio Matos, Lara Jacinto, Manuela Vaz, Maria Afonso, Marta de Aguiar, Nuno Calvet, Rosa Ramos, Rui Pedro Bordalo
27º Festival de Cinema de Avanca 2023
Casa da Cultura de Estarreja
22 Jul > 29 Jul 2023


Quando esta mensagem for lida pela esmagadora maioria dos seguidores do blogue, já o Colectivo de Imagens promovido pelo Cineclube de Avanca, em parceria com o Município de Estarreja e a Olga Santos Galeria, terá chegado ao fim. O que se lamenta, na verdade. Sobretudo pela qualidade intrínseca aos trabalhos apresentados e que, expostos no curto espaço de tempo de uma semana, não terão recolhido a atenção que justificariam e mereceriam. Ainda assim, tive oportunidade de visitar a exposição na tarde do seu penúltimo dia e trago alguns apontamentos que gostaria de partilhar. Começaria pelo facto de estar a decorrer a 27ª edição do Festival de Cinema de Avanca e, por isso, fazer todo o sentido uma mostra de fotografia que faz a ponte entre as duas artes. A palavra seguinte vai para a forma como os artistas deram corpo ao desafio, muitos deles optando por sequenciar um conjunto de imagens, dando assim a ideia de movimento e de continuidade às suas narrativas. Enfim, a forma como a exposição está montada, oferecendo múltiplas perspectivas sobre o cinema e a sua relação com a fotografia, tanto nos seus aspectos mais filosóficos como de um ponto de vista estético e formal.

“On the Road I / II”, de Adelino Marques, lança-nos numa viagem que oscilará entre o real e a ficção, o longe e o perto, a sombra e a luz. São duas imagens de uma grande beleza, que abrem espaço à imaginação e que, como num filme de Angelopoulos, nos levam para lá do sonho. Se falo de Angelopoulos e das suas imagens diáfanas envoltas em bruma - como poderia falar da fotografia de Josef Koudelka -, devo igualmente falar de Ridley Scott e do incontornável “Blade Runner” a propósito de outro registo onírico ao qual Luís Coelho quis, muito justamente, chamar “Porto Blade Runner”. No centro da sala, a fazer lembrar um rolo de película, Manuela Vaz dá-nos a ver o seu “corporis reactionem”, sequência de cinco imagens cuja leitura se oferece à sensibilidade interpretativa de cada visitante. Ali ao lado, “Força”, de João Tavares, traz-nos uma imagem que poderia muito bem ser um fotograma de um filme de Alfredo Tropa, enquanto Maria Afonso põe em “Perspectiva”, num conjunto de doze imagens, os lugares e as gentes ligadas à Ria. Há ainda Júlio de Matos e a sua homenagem ao mestre Manoel de Oliveira com duas imagens significativas, uma delas com dedicatória e assinatura do próprio cineasta.

“Bosque Adentro” e “Rebanho ao Amanhecer” são duas imagens de Luís Romba que se fundem numa estética naturalista e nos mergulham no melhor cinema de Pedro Costa ou Teresa Villaverde. Lara Jacinto recupera duas imagens de um projecto seu de 2011, “Arrefeceu a Cor dos Teus Cabelos”, talvez aquele que, de todos os trabalhos expostos, mais remete para o mundo do cinema pelas narrativas que abre nessa aceitação ou rejeição da mudança como uma constante da vida. Jorge Pedra homenageia, de forma explícita, aqueles que serão alguns dos filmes da sua vida, casos de “Nunca Digas Nunca”, “Manhattan” ou “Psico”. Fernando Matos, com o seu “Ribeira do Porto”, faz o nosso olhar pousar com ternura em “Aniki Bobó”, enquanto João Tavares, com os trabalhos “Luz” e “Sombras”, remete para a própria essência da fotografia (e do cinema). Finalmente, Lauren Maganete dá-nos a ver “Viagem 1 / 2 / 3”, impactante sequência de três imagens “animadas” pelo movimento de um homem em contraste com uma estação de comboios deserta, o todo completado pela figura de uma mulher que parece observar a cena por detrás de uma janela. Excelente!

domingo, 7 de abril de 2019

EXPOSIÇÃO DE GRAVURA E PINTURA: "Uma História de Linhas, Letras e Manchas"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA E GRAVURA: “Uma História de Linhas, Letras e Manchas”,
de Maria Afonso
Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas
29 Mar > 30 Abr 2019


Linhas, letras e manchas. Longas ou finas, curvas ou interrompidas, numa caligrafia escorreita ou tipografadas, polícromas ou esborratadas, não são elas a essência do desenho, da gravura ou da pintura? Não é da sua disposição ordenada sobre o papel ou na tela que a obra adquire forma e sentido, revelando-se ante o olhar – quantas vezes curioso, quantas vezes atónito - do criador? Transpondo estes ingredientes para um conjunto diversificado de suportes, Maria Afonso quis vincar o seu significado e importância, a sua essência, desconstruindo-os em pequenos retalhos pulsantes de vida. São eles a alma de uma bela história que, ao longo do mês de Abril, pode ser “escutada” na Cooperativa Árvore, no Porto.

Há, nos trabalhos de Maria Afonso, toda uma poética que remete para o ponto zero da criação, para aquele momento inicial do primeiro embate entre o lápis e o papel, da primeira pincelada na tela. Um momento que congrega em si todo o potencial criador, “big bang” pulsante e rebelde de cores, modos e emoções que, num contínuo, se organizam (arbitrariamente?), tomando formas que são a mais bela expressão de vida. É isso que faz com que seja impossível ficarmos indiferentes às magnólias que sabemos em flor no jardim da artista, à “espera” que se esconde nos retalhos gravados sobre etiquetas de avião F16, às subtis e delicadas composições que, da raiz à pétala, se unem para nos oferecer a mais graciosa flor.

Mas fechemos os olhos e deixemo-nos invadir pela harmonia e serenidade do espaço. “Em silêncio o rochedo vê chegar e partir as estações”. É silencioso, o rochedo, mas como expressa a matéria, escura e densa, que o consome? Ora em flor, a magnólia não era mais do que sofrimento, os braços secos vergastados pelos rigores do inverno, há pouco tempo atrás; a “espera” é a das mulheres em contexto de guerra; e, os trabalhos de pequenas dimensões, são “doses” de arte a baixo custo, remédios para a alma à venda em farmácias. A paz e a harmonia são-no apenas na aparência; de súbito, cedem lugar à inquietação e ao desconforto. Há questões a avolumarem-se nas nossas mentes, há razões que pedem conhecimento à razão, há causas que erguem a sua bandeira. No silêncio, o grito do rochedo faz-se ouvir!

sábado, 10 de março de 2018

EXPOSIÇÃO: "Narrativas"



EXPOSIÇÃO: “Narrativas”,
de Maria Afonso
Casa da Cultura de Estarreja
10 Mar > 29 Abr 2018


Será a alma um ente passível de ser mapeado? A resposta parece estar na mais recente exposição de Maria Afonso, “Narrativas”, um percurso de 30 obras sobre as quais a artista refletiu e trabalhou ao longo de cinco anos e que está patente na Casa da Cultura de Estarreja. No seu conjunto, o resultado pode ser visto como uma proposta de mapa interior: uma paisagem difusa em tons de negro e vermelho, pontos unidos entre si por linhas que acabam por se perder, um emaranhado de palavras dispersas e um código implícito que se oferece ao espectador a fim de ser deslindado. 

Fascinados, agarramo-nos à convicção de estarmos perante um vasto e complexo conjunto de mapas. “You're here”, sinal inequívoco duma cartografia dos sentidos, pode ler-se algures. Há linhas mais definidas que podem ser caminhos, aqui cruzando-se, ali afastando-se; outras serão ribeiros onde a água corre límpida, ora suave e breve, ora caudalosa, em torrentes de espanto. Há vales e colinas, altos e baixos duma vida/terra com sentido. E há árvores e rochas e prados e céu. Rendidos à sensibilidade e despojamento da artista, seguimos os sinais. “Objectos cruzados”, “trabalho de ligação”, “reinvenção”, “criação artística” e a palavra “arte”, três vezes repetida, juntam-se a “meditações”, “silêncio”, “tempo”, “pensar” e “processo”, condensando “A Missão” e permitindo avaliar a dimensão do trabalho de Maria Afonso / Elisabete Amaral, do caos criativo inicial ao produto acabado, reflexo revelador do desassossego que tomou conta do seu trabalho entre 2011 e 2016.

O pensamento vagueia ao sabor das palavras. “Viagem” e “prazer” são linhas de Norte recorrentes, nas quais o espírito mergulha ao encontro de “amor”, “mistério”, “romance”, “luxúria”, ou de coisas mais práticas como “museu”, “obra”, “Sinfonia nº 2”, “livro”, “as árvores”, o “Sol” ou a “Terra”. Nestas narrativas há “sombras”, “drama”, “arestas” e “fragilidades”. Mas há também “feitiço”, “a magia do lugar” e “amantes (quase)”. Há, sobretudo, “poesia”, a palavra mais vezes impressa na obra de Maria Afonso. Uma poesia que se derrama, de forma incontida, inesgotável, de cada um destes quadros. Que nos inunda duma imensa felicidade, nos leva por “caminhos” de “festa” e de “vida”, nos faz escutar o último acto de “La Bohéme” com o coração ainda mais apertado. Que nos leva nas asas do “sonho” e do “desejo”. A não perder!