EXPOSIÇÃO: “Narrativas”,
de Maria Afonso
Casa da Cultura de Estarreja
10 Mar > 29 Abr 2018
Será a alma um ente passível de
ser mapeado? A resposta parece estar na mais recente exposição de
Maria Afonso, “Narrativas”, um percurso de 30 obras sobre as
quais a artista refletiu e trabalhou ao longo de cinco anos e que
está patente na Casa da Cultura de Estarreja. No seu conjunto, o resultado pode ser visto como uma proposta de mapa interior: uma paisagem difusa em tons de negro e
vermelho, pontos unidos entre si por linhas que acabam por se perder,
um emaranhado de palavras dispersas e um código implícito que se
oferece ao espectador a fim de ser deslindado.
Fascinados, agarramo-nos à
convicção de estarmos perante um vasto e complexo conjunto de mapas.
“You're here”, sinal inequívoco duma cartografia dos sentidos,
pode ler-se algures. Há linhas mais definidas que podem ser caminhos, aqui cruzando-se, ali afastando-se; outras serão ribeiros onde a água corre límpida, ora suave e breve, ora caudalosa, em torrentes de espanto. Há vales e colinas, altos e baixos duma vida/terra com sentido. E há árvores e rochas e prados e céu. Rendidos à sensibilidade e despojamento da artista, seguimos os sinais. “Objectos
cruzados”, “trabalho de ligação”, “reinvenção”,
“criação artística” e a palavra “arte”, três vezes
repetida, juntam-se a “meditações”, “silêncio”, “tempo”,
“pensar” e “processo”, condensando “A Missão” e
permitindo avaliar a dimensão do trabalho de Maria Afonso /
Elisabete Amaral, do caos criativo inicial ao produto acabado,
reflexo revelador do desassossego que tomou conta do seu trabalho entre
2011 e 2016.
O pensamento vagueia ao sabor das
palavras. “Viagem” e “prazer” são linhas de Norte
recorrentes, nas quais o espírito mergulha ao encontro de “amor”,
“mistério”, “romance”, “luxúria”, ou de coisas mais
práticas como “museu”, “obra”, “Sinfonia nº 2”,
“livro”, “as árvores”, o “Sol” ou a “Terra”. Nestas
narrativas há “sombras”, “drama”, “arestas” e
“fragilidades”. Mas há também “feitiço”, “a magia do
lugar” e “amantes (quase)”. Há, sobretudo, “poesia”, a
palavra mais vezes impressa na obra de Maria Afonso. Uma poesia que
se derrama, de forma incontida, inesgotável, de cada um destes
quadros. Que nos inunda duma imensa felicidade, nos leva por
“caminhos” de “festa” e de “vida”, nos faz escutar o
último acto de “La Bohéme” com o coração ainda mais apertado. Que nos leva nas asas do “sonho” e do “desejo”. A não perder!
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