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sábado, 10 de março de 2018

EXPOSIÇÃO: "Narrativas"



EXPOSIÇÃO: “Narrativas”,
de Maria Afonso
Casa da Cultura de Estarreja
10 Mar > 29 Abr 2018


Será a alma um ente passível de ser mapeado? A resposta parece estar na mais recente exposição de Maria Afonso, “Narrativas”, um percurso de 30 obras sobre as quais a artista refletiu e trabalhou ao longo de cinco anos e que está patente na Casa da Cultura de Estarreja. No seu conjunto, o resultado pode ser visto como uma proposta de mapa interior: uma paisagem difusa em tons de negro e vermelho, pontos unidos entre si por linhas que acabam por se perder, um emaranhado de palavras dispersas e um código implícito que se oferece ao espectador a fim de ser deslindado. 

Fascinados, agarramo-nos à convicção de estarmos perante um vasto e complexo conjunto de mapas. “You're here”, sinal inequívoco duma cartografia dos sentidos, pode ler-se algures. Há linhas mais definidas que podem ser caminhos, aqui cruzando-se, ali afastando-se; outras serão ribeiros onde a água corre límpida, ora suave e breve, ora caudalosa, em torrentes de espanto. Há vales e colinas, altos e baixos duma vida/terra com sentido. E há árvores e rochas e prados e céu. Rendidos à sensibilidade e despojamento da artista, seguimos os sinais. “Objectos cruzados”, “trabalho de ligação”, “reinvenção”, “criação artística” e a palavra “arte”, três vezes repetida, juntam-se a “meditações”, “silêncio”, “tempo”, “pensar” e “processo”, condensando “A Missão” e permitindo avaliar a dimensão do trabalho de Maria Afonso / Elisabete Amaral, do caos criativo inicial ao produto acabado, reflexo revelador do desassossego que tomou conta do seu trabalho entre 2011 e 2016.

O pensamento vagueia ao sabor das palavras. “Viagem” e “prazer” são linhas de Norte recorrentes, nas quais o espírito mergulha ao encontro de “amor”, “mistério”, “romance”, “luxúria”, ou de coisas mais práticas como “museu”, “obra”, “Sinfonia nº 2”, “livro”, “as árvores”, o “Sol” ou a “Terra”. Nestas narrativas há “sombras”, “drama”, “arestas” e “fragilidades”. Mas há também “feitiço”, “a magia do lugar” e “amantes (quase)”. Há, sobretudo, “poesia”, a palavra mais vezes impressa na obra de Maria Afonso. Uma poesia que se derrama, de forma incontida, inesgotável, de cada um destes quadros. Que nos inunda duma imensa felicidade, nos leva por “caminhos” de “festa” e de “vida”, nos faz escutar o último acto de “La Bohéme” com o coração ainda mais apertado. Que nos leva nas asas do “sonho” e do “desejo”. A não perder!

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