TEATRO: “O Santo e a Porca”,
de Ariano Suassuna
Versão e Encenação | Alfredo
Correia
Interpretação | José Maria Silva,
Olívia Martins, David Ferreira, Ana Carvalho, Fernando Gomes,
Lourdes Costa e Cesário Costa
Produção | Companhia Teatral de
Ramalde – Associação 26 de Janeiro
Casa da Contacto, Ovar | 10 Mar 2018
| sáb | 21:45
O centro da história é Eurico,
avarento, devoto de Santo António, assombrado pela ideia de que
todos querem roubá-lo. Por isso, guarda em sua casa uma porca de
madeira onde esconde o dinheiro anos e anos. Tantos anos que o dinheiro acaba por perder o valor. Ao redor de Eurico estão a filha, Margarida, a irmã
solteirona Benedita, Vicente, fazendeiro rico e viúvo, Diogo, filho
do fazendeiro, disfarçado de corcunda, e dois criados – Pinhão,
criado de Vicente e noivo de Carolina. Esta, criada de Eurico, é a
personagem que desenvolve toda a intriga. Entre confusões, encontros
e desencontros, formam-se três casais apaixonados e sobra um velho
sovina, com a sua porca e o seu santo.
Imitação Nordestina de Plauto, “O
Santo e a Porca” é uma peça escrita pelo brasileiro Ariano Vilar
Suassuna (1927 – 2014), levada à cena pela primeira vez no Rio de
Janeiro, pelo Teatro Cacilda Becker, em 1958. Trata-se duma comédia
de costumes contada por alguém que manteve um contacto profundo e
amoroso com a vida. Um realista, como o próprio Suassuna se
considerava, mas não à maneira naturalista — que falseia a vida —
mas à maneira da maravilhosa literatura popular brasileira, que
transfigura a vida com a imaginação para lhe ser fiel. Com “O
Santo e a Porca”, o que Suassuna procurou atingir foi, se não a
verdade do mundo, pelo menos a verdade do seu mundo, do mundo que lhe foi dado.
Um mundo de sol e de poeira, como o que conheceu na sua infância,
com actores ambulantes ou bonecos de mamulengo, representando gente
comum e às vezes representando atores – com cangaceiros, santos,
poderosos, assassinos, ladrões, palhaços, prostitutas, juízes,
avarentos, luxuriosos, medíocres, homens e mulheres de bem – e no
qual eram presença constante os seres da vida mais humilde, as
pastagens, o gado, as pedras, o sol e o céu.
Dar a ver uma peça tão rica de
simbolismo, significado e alcance é, desde logo, mérito desta
Companhia Teatral de Ramalde – Associação 26 de Janeiro que, sob
a batuta de Alfredo Correia, soube ilustrar, com enorme empenho e
amor ao teatro, esta hilariante comédia de costumes. Secundada por um
bom naipe de actores, Olívia Martins mostrou-se irrepreensível no
papel de Carolina, enriquecendo-o com os modos e o sotaque
marcadamente tripeiros e arrancando saborosas palmas e gargalhadas ao
público que, numa noite tempestuosa, esgotou por completo a Casa da
Contacto. Finalmente, mérito também da Companhia de Teatro Água
Corrente de Ovar que, desde 2002, insiste em “Dar Teatro”,
mantendo o contacto do público com o teatro fora dos meses em que
ocorrem as suas grandes iniciativas teatrais. Obrigado a todos e parabéns ao Teatro!
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