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domingo, 11 de março de 2018

TEATRO: "O Santo e a Porca"



TEATRO: “O Santo e a Porca”,
de Ariano Suassuna
Versão e Encenação | Alfredo Correia
Interpretação | José Maria Silva, Olívia Martins, David Ferreira, Ana Carvalho, Fernando Gomes, Lourdes Costa e Cesário Costa
Produção | Companhia Teatral de Ramalde – Associação 26 de Janeiro
Casa da Contacto, Ovar | 10 Mar 2018 | sáb | 21:45


O centro da história é Eurico, avarento, devoto de Santo António, assombrado pela ideia de que todos querem roubá-lo. Por isso, guarda em sua casa uma porca de madeira onde esconde o dinheiro anos e anos. Tantos anos que o dinheiro acaba por perder o valor. Ao redor de Eurico estão a filha, Margarida, a irmã solteirona Benedita, Vicente, fazendeiro rico e viúvo, Diogo, filho do fazendeiro, disfarçado de corcunda, e dois criados – Pinhão, criado de Vicente e noivo de Carolina. Esta, criada de Eurico, é a personagem que desenvolve toda a intriga. Entre confusões, encontros e desencontros, formam-se três casais apaixonados e sobra um velho sovina, com a sua porca e o seu santo.

Imitação Nordestina de Plauto, “O Santo e a Porca” é uma peça escrita pelo brasileiro Ariano Vilar Suassuna (1927 – 2014), levada à cena pela primeira vez no Rio de Janeiro, pelo Teatro Cacilda Becker, em 1958. Trata-se duma comédia de costumes contada por alguém que manteve um contacto profundo e amoroso com a vida. Um realista, como o próprio Suassuna se considerava, mas não à maneira naturalista — que falseia a vida — mas à maneira da maravilhosa literatura popular brasileira, que transfigura a vida com a imaginação para lhe ser fiel. Com “O Santo e a Porca”, o que Suassuna procurou atingir foi, se não a verdade do mundo, pelo menos a verdade do seu mundo, do mundo que lhe foi dado. Um mundo de sol e de poeira, como o que conheceu na sua infância, com actores ambulantes ou bonecos de mamulengo, representando gente comum e às vezes representando atores – com cangaceiros, santos, poderosos, assassinos, ladrões, palhaços, prostitutas, juízes, avarentos, luxuriosos, medíocres, homens e mulheres de bem – e no qual eram presença constante os seres da vida mais humilde, as pastagens, o gado, as pedras, o sol e o céu.

Dar a ver uma peça tão rica de simbolismo, significado e alcance é, desde logo, mérito desta Companhia Teatral de Ramalde – Associação 26 de Janeiro que, sob a batuta de Alfredo Correia, soube ilustrar, com enorme empenho e amor ao teatro, esta hilariante comédia de costumes. Secundada por um bom naipe de actores, Olívia Martins mostrou-se irrepreensível no papel de Carolina, enriquecendo-o com os modos e o sotaque marcadamente tripeiros e arrancando saborosas palmas e gargalhadas ao público que, numa noite tempestuosa, esgotou por completo a Casa da Contacto. Finalmente, mérito também da Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar que, desde 2002, insiste em “Dar Teatro”, mantendo o contacto do público com o teatro fora dos meses em que ocorrem as suas grandes iniciativas teatrais. Obrigado a todos e parabéns ao Teatro!

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