LIVRO: “Índice Médio de
Felicidade”,
de David Machado
Edição de Maria do Rosário
Pedreira
Ed. Publicações D. Quixote, Agosto
de 2013
É de felicidade que este livro nos
fala. Para além de implícito no título, o conceito derrama-se das
suas páginas das mais variadas formas, da felicidade suprema à mais
profunda infelicidade. Nele aprendemos a relativizar as coisas, a
acreditarmos em nós, a não partirmos derrotados para cada nova
batalha. E não, não é (mais) um livro de auto-ajuda. É antes uma
ficção muito bem escrita, simples e comovedora, cuja leitura
convoca, igualmente, conceitos como simplicidade e sinceridade ou, se
quisermos, sensibilidade. Mas vamos por partes.
Comecemos pela felicidade. Será que é
possível medi-la? O livro diz-nos que sim (pelo menos, uma das
personagens do livro afirma que sim). Não que graduar a felicidade
de cada um e compará-la com a dos outros possa mudar o que quer que
seja. A subjectividade implícita no próprio conceito joga a favor
dos mais cépticos e qualquer argumento em defesa duma
escala devidamente parametrizada e que possa constituir-se em
referência fidedigna está condenado ao fracasso. E, contudo, o homem moderno precisa disto,
vive deste tipo de instrumentos, por mais falíveis que possam ser.
No limite, serão uma forma de cada um provar a si próprio que, por
muito baixa que esteja a sua auto-estima, a sua saúde, a sua conta bancária ou a sua felicidade, haverá sempre alguém pior ainda. Reflectir sobre a felicidade, a forma como a
manipulamos ou somos manipulados, como “contaminamos” os outros
ou nos deixamos (ou não) “contaminar”, é um caminho de leitura
possível para “Índice Médio de Felicidade”, quiçá o mais
desafiante e enriquecedor.
Falando agora de simplicidade, direi
apenas que é algo inerente à escrita de David Machado. Porque esta
é uma história simples, porque as personagens são simples e porque o escritor não perde o seu tempo com teorias sem sentido
(algo que o parágrafo anterior poderia fazer supor). O tempo do
livro é o tempo da troika, dum país mergulhado na austeridade e na
precariedade, profundamente descrente e triste. É o tempo dum tempo
demasiado presente para que os problemas das
personagens não possam deixar de ser sentidos como nossos. E, no entanto, por muitas “portas” que
se fechem e por muitos “passos” que não levem a lado nenhum, consegue haver sempre alguém com uma crença desmedida num futuro melhor, ainda que o mundo desabe com estrondo à sua volta. E aqui entram, finalmente, os
conceitos de sinceridade e de sensibilidade. É que não basta forjar
uma história, é necessário torná-la credível, levar o leitor a
rever-se nela, a senti-la e a sentir a necessidade de agir. É este o
mérito de David Machado e nisto reside a força deste livro
extraordinário, um livro que, embora movendo-se num espaço
sufocante, não descarta uma palavra de coragem e optimismo. Afectuoso, sensível e motivador, “Índice
Médio de Felicidade” é uma lição de vida!
Sem comentários:
Enviar um comentário