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segunda-feira, 12 de março de 2018

LIVRO: "Índice Médio de Felicidade"



LIVRO: “Índice Médio de Felicidade”,
de David Machado
Edição de Maria do Rosário Pedreira
Ed. Publicações D. Quixote, Agosto de 2013


É de felicidade que este livro nos fala. Para além de implícito no título, o conceito derrama-se das suas páginas das mais variadas formas, da felicidade suprema à mais profunda infelicidade. Nele aprendemos a relativizar as coisas, a acreditarmos em nós, a não partirmos derrotados para cada nova batalha. E não, não é (mais) um livro de auto-ajuda. É antes uma ficção muito bem escrita, simples e comovedora, cuja leitura convoca, igualmente, conceitos como simplicidade e sinceridade ou, se quisermos, sensibilidade. Mas vamos por partes.

Comecemos pela felicidade. Será que é possível medi-la? O livro diz-nos que sim (pelo menos, uma das personagens do livro afirma que sim). Não que graduar a felicidade de cada um e compará-la com a dos outros possa mudar o que quer que seja. A subjectividade implícita no próprio conceito joga a favor dos mais cépticos e qualquer argumento em defesa duma escala devidamente parametrizada e que possa constituir-se em referência fidedigna está condenado ao fracasso. E, contudo, o homem moderno precisa disto, vive deste tipo de instrumentos, por mais falíveis que possam ser. No limite, serão uma forma de cada um provar a si próprio que, por muito baixa que esteja a sua auto-estima, a sua saúde, a sua conta bancária ou a sua felicidade, haverá sempre alguém pior ainda. Reflectir sobre a felicidade, a forma como a manipulamos ou somos manipulados, como “contaminamos” os outros ou nos deixamos (ou não) “contaminar”, é um caminho de leitura possível para “Índice Médio de Felicidade”, quiçá o mais desafiante e enriquecedor.

Falando agora de simplicidade, direi apenas que é algo inerente à escrita de David Machado. Porque esta é uma história simples, porque as personagens são simples e porque o escritor não perde o seu tempo com teorias sem sentido (algo que o parágrafo anterior poderia fazer supor). O tempo do livro é o tempo da troika, dum país mergulhado na austeridade e na precariedade, profundamente descrente e triste. É o tempo dum tempo demasiado presente para que os problemas das personagens não possam deixar de ser sentidos como nossos. E, no entanto, por muitas “portas” que se fechem e por muitos “passos” que não levem a lado nenhum, consegue haver sempre alguém com uma crença desmedida num futuro melhor, ainda que o mundo desabe com estrondo à sua volta. E aqui entram, finalmente, os conceitos de sinceridade e de sensibilidade. É que não basta forjar uma história, é necessário torná-la credível, levar o leitor a rever-se nela, a senti-la e a sentir a necessidade de agir. É este o mérito de David Machado e nisto reside a força deste livro extraordinário, um livro que, embora movendo-se num espaço sufocante, não descarta uma palavra de coragem e optimismo. Afectuoso, sensível e motivador, “Índice Médio de Felicidade” é uma lição de vida!

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