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sexta-feira, 11 de julho de 2025

EXPOSIÇÃO: "Ante + Post" | Rui Paes



EXPOSIÇÃO: “Ante + Post”,
de Rui Paes
Artistas convidados | Nadja Maya, Xavier Paes, Inês Tartaruga Água
Museu Escolar Oliveira Lopes
24 Mai > 20 Set 2025


“Porque tem de ser que ninguém saiba (ou suspeite)
Para que entre vós e eu não se levante
Uma inútil e alheia espada
Oculta em cada caule de cada flor lançada
À minha fronte”
Glória de Sant’Anna

No âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Glória de Sant’Anna, o Museu Escolar Oliveira Lopes acolhe “Ante + Post”, mostra do pintor, escultor, ilustrador e muralista Rui Paes, filho da escritora. Nesta exposição, o artista abre as portas do seu mundo, mas não está só: Nadja Maya, Inês Tartaruga Água e Xavier Paes são três convidados muito especiais - e não apenas por fazerem parte da família de Rui Paes -, transformando a exposição num espaço privilegiado de diálogo intergeracional em torno da pintura, escultura, vídeo e desenho. Incidindo em trabalhos da segunda metade da década de 1980 e seguinte, anos aos quais Rui Paes se refere como o seu “período brutalista”, a mostra tem a particularidade de trazer ao olhar do visitante um conjunto de obras pouco conhecidas, mas particularmente significativas da sua carreira. Entre elas avulta “Memória do Arquitecto” (1987), uma pintura de grandes dimensões em gel acrílico e pigmentos sobre algodão que domina um dos topos da galeria. Em tons de vermelho, ela atrai o visitante e serve de guia e fio condutor para a fruição plena dos restantes trabalhos.

Um dos elementos contrastantes desta exposição tem a ver com a escala, já que “Memória do Arquitecto”, mas também “Todos os Fogos, o Fogo” ou o magnífico “A Segunda Caixa do Homem-Medicina (Shaman)”, ambas de 1990, impressionam pela sua dimensão, sem com isso deixarem de dialogar com as séries de 1989, “Casos de Amor” e “Cruzes de Amor”, conjuntos de cinco obras cada, de pequenas dimensões. Podemos ainda apreciar “Ícone”, “O Devorador de Ícones” ou “A Requintada Expressão do Sofrimento”, obras realizadas em 1989 e que congregam elementos arquitectónicos e estéticos dos trabalhos referidos, ao mesmo tempo que servem de campo de experimentação para uma mais vasta paleta de cores. A ladear a impactante “Memória de Arquitecto”, “Coming for You, Coming for Me” e “Inside You, Inside Me”, distam desta mais de três décadas e são duas obras que parecem fechar um ciclo numa espécie de regresso aos lugares da memória (de arquitecto). As cores suaves e uma figuração anatomista impõem-se em obras como “A Ciência e o Desengano” ou no muito belo “O Desenho”, ambas de 1995. “O Caminho do Poeta (Caixa Sonora)” (2009) e “Solilóquio” (2007) são duas esculturas simbolistas que tiram partido dos cravos de ferrar sobre dois objectos que podemos ver como apetrechos de trabalho do artista.

Num outro espaço, Nadja Maya apresenta um conjunto de doze “Decomposições” (aguarela, acrílico e séria sobre papel de algodão) e que a artista considera “uma espécie de ‘desintelectualização’, para voltar a confiar no meu espírito, na minha intuição e no meu instinto, explorando e expandindo aquele ponto na criatividade em que um projecto se sustenta e prospera sem a minha supervisão”. De difícil definição, estas “decomposições” abrem-se ao olhar do visitante, pedindo-lhe que as considere e aprecie. Artista transdisciplinar sediado no Porto, Xavier Paes mostra-nos “Passage to Crystallization”, uma obra que se traduz “num exercício rítmico com riscadores, que explora as relações entre música, ruído e notação musical, criando uma meta-partitura, uma paisagem neumática onde gesto, movimento, sequências e acumulações temporais são cristalizados no plano”. Enfim, Inês Tartaruga Água oferece-nos “Variações para piões n.º 2”, obra gráfica que surge como registo visual de uma investigação multidisciplinar centrada no pião enquanto objecto sonoro. Diria que esta peça tem um significado muito particular para todos quantos tiveram oportunidade de assistir, no início de 2023, à curiosíssima performance “Variações para Piões”, apresentada neste mesmo espaço e que pode ser recordada AQUI.

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