TERTÚLIAS LITERÁRIAS: “Conversas às 5”,
Com | Teresa Teixeira
Participação especial | Isabel Marcolino
Moderação | Joaquim Margarido Macedo
Centro de Reabilitação do Norte
15 Abr 2025 | ter | 17:00
A poucos dias de festejar quatro anos de existência, as “Conversas às 5” regressaram ao Centro de Reabilitação do Norte para um momento verdadeiramente especial. A grande novidade desta sessão deveu-se ao facto de, pela primeira vez, a convidada ser alguém presentemente internada no Centro, abraçando a conversa na qualidade de escritora, sem se distanciar da situação de doente. Nessa dupla função, as palavras de Teresa Teixeira adquiriram um novo e maior alcance, permitindo ver o lado salvífico da poesia como a expressão de um viver tanto mais intenso e estimulante quanto maiores os desafios e provações que encerra. “Menina de olhos tristes, / Que adivinha teu olhar, / Que naufrágios entreviste / Na placidez do teu mar?”. Pela voz de Isabel Marcolino, incansável respigadora e semeadora de poesia, o “Auto-Retrato” de Teresa Teixeira (do livro “Da Serena Idade das Coisas”, Ed. Temas Originais, 2012) abriu uma janela sobre a poetisa e sobre a inspiradora paisagem duriense, seu “nascedouro”. “É impossível não se ser poeta vivendo no Douro”, dirá a convidada na sua primeira intervenção, afirmando-se um produto dele - “está sempre no meu coração, está sempre na minha poesia” - e acrescentando ter um sonho: “Um livro meu, só com fotos e poemas ao Douro”.
Teresa Teixeira nasceu em Figueira, concelho de Lamego, beiral-sul do deslumbrante Douro. “É tão fácil ser poeta (…)”, escreveu um dia, ainda talvez inocente do suor implícito na ventura de o ser. Autodidacta e intuitiva (é de fé tranquila, a sua escrita de sensibilidades), reconhece, contudo, que construir obra poética é também labor, empenho, procura, cuidado. E entrega. Profissionalmente ligada ao sector bancário, foi deixando a vida amadurecer-lhe o gosto de escrever, e só recentemente começou a aventurar-se no meio literário, tendo participado em várias Colectâneas de Poesia, em Portugal e no Brasil. Entre alguns destaques, foi a vencedora, em 2011, do I Concurso de Poesia da Associação Cultural DRACA, de Palmela, que lhe valeu a publicação do seu primeiro livro, “Da serena idade das coisas”. Em 2014, publicou, a convite, o livro “Voo Livre”, sob chancela da editora Versbrava. Ainda em 2014, venceu o XIX Concurso de Poesia da APPACDM de Setúbal, de cujo prémio resultou a publicação de “Labiríntimos”, sob patrocínio da editora Lua de Marfim. Feitas as apresentações, voltemos de novo o olhar para a vida e para os poemas, uma e a mesma coisa no universo multifacetado da escritora.
“Sempre escrevi para mim, para as gavetas, para os bolsos, para deitar fora.” A conversa prossegue e percebemos que o material acumulado, muito dele “poemas de amor” a uma filha “que me levou para a poesia”, viria a servir de base para a publicação de um primeiro livro, graças ao prémio num concurso literário. Depois desse “sonho cumprido”, os livros de poesia foram-se sucedendo, trazendo neles o viver e o sentir de Teresa Teixeira, em amor e em verdade. Na batalha da vida - “(…) a batalha começa aqui, sempre / na cruz que a minha arma marca no chão” -, a escrita serve de “analgésico” contra a tristeza, a amargura e a saudade, deixando transparecer a doçura, o amor e a gratidão. Fruto de um espírito intuitivo e eclético, os poemas tanto nos falam dos sons do silêncio como de sinos ao vento, deixando perceber que “escrever é um exercício de mente”. Nos cruzamentos de linhas e palavras, a poesia de Teresa Teixeira encontra-se com António Gedeão e Mia Couto, Fernando Pessoa, Manuel Alegre e, inevitavelmente, Miguel Torga. Nesse “palavra puxa palavra”, a autora confessa que “há versos de muitos poemas que toda a vida ouvimos, que fazem parte de nós, e com os quais gosto de brincar, modificando-os, indo por outro caminho”.
“Trabalho muito, não me sobra tempo para a poesia”. A resposta ao desafio de um elemento da assistência teve o condão de chamar a atenção para a realidade de quem está internado no Centro e se entrega com afinco a complexos e exigentes programas de reabilitação. Lembrar que, entre a assistência, “há quem já tenha seis horas ou mais de trabalho intenso, num dia que começa muito cedo, e que dispensou um momento de merecido repouso para poder estar aqui”, foi tarefa do moderador, levando a plateia a reagir com uma calorosa salva de palmas. Com a conversa a caminhar para o final, percebeu-se que no público haveria “algumas pessoas que gostariam de ler poemas da Teresa”, podendo ser esta “uma forma de trazer para o Centro mais pessoas que gostam de dizer poesia”. Bem aceite por todos - houve mesmo quem sugerisse a gravação de leituras para pessoas com incapacidade em ler -, a ideia levou a que, a Isabel Marcolino, se juntassem Gabriela Sá, Conceição Lima e Alzira Santos, fazendo da leitura a muitas vozes um momento de emoções partilhadas, de exaltação da poesia e de amor à vida. Saiu-se da sessão de coração cheio, nesta abraço a Teresa Teixeira. Ficamos com um desejo seu: “Que seja procura, sempre, o caminho - a Poesia é um Horizonte belo demais para se perder de vista, caleidoscópico demais, para se definir em cores óbvias ou definitivas.”
Acredito na Poesia
ResponderEliminarAcredito na Poesia
como método de cura
e processo que remedia
as dores do corpo,
que a alma transcende
e em si depura.
Acredito na oculta luz
que obvia
a dinâmica do previsível
a descrença no Espanto,
a fatalidade da Cruz.
Acredito nas palavras
dos Homens e das Mulheres
e, mais ainda,
nas acções que os elevam
além de dúbias certezas,
além da sua humana imperfeição,
à qualidade de seres
Bons.
Gosto de lê-los,
guardá-los no coração,
como se fossem sentires
que me resgatem e transportem
à imponderável sutbtileza
dos poemas mais belos.
Obrigada, Enfermeiro Joaquim Margarido!
Teresa Teixeira