Páginas

segunda-feira, 29 de julho de 2024

EXPOSIÇÃO: "A Arte do Conflito"



EXPOSIÇÃO: “A Arte do Conflito”
Vários artistas
Tribunal da Relação do Porto
09 Mai > 15 Dez 2024


Desde tempos imemoriais que o conflito marca e define o mundo da Arte. Seja porque as várias manifestações artísticas são, elas mesmas, geradoras de conflitualidade – veja-se “A Origem do Mundo”, de Gustave Courbet, ou “A Fonte”, de Marcel Duchamp, por exemplo –, seja porque a produção artística decorre do próprio conflito – os trabalhos de Arte Urbana de Banksy ou de Bordalo II são prova disso mesmo –, a relação entre os conceitos é flagrante e tem funcionado como mola propulsora de novas correntes e movimentos artísticos. A argumentação sobre interpretações e atribuições, avaliações e questões de propriedade é contínua, alimentando conversas e controvérsias. Os próprios museus, verdadeiros templos da sociedade civil, consensuais e pacificadores, erguidos como símbolos de bem-estar social, são infraestruturas, muitas das vezes construídas sobre saques de guerra, pilhagens, invasões ou expropriações culturais. Como afirma o Papa Francisco, “uma vida sem conflitos não é vida” e, portanto, a Arte existe enquanto artífice da paz que a todos une.

Patente ao público no Tribunal da Relação do Porto, em estreita ligação com o recém-inaugurado Museu do Conflito, “A Arte do Conflito” é uma mostra colectiva que se debruça, muito justamente, sobre esta relação íntima. Organizada pela Cooperativa Árvore, em parceria com o Tribunal da Relação do Porto, a exposição reúne trabalhos de pintura, escultura, xilogravura, vídeo e instalação, realizados expressamente para o efeito por um corpo de vinte e um artistas – Acácio de Carvalho, Alberto Péssimo, Ana Torrie, Benedita Kendall, Diana Costa, Domingos Loureiro, Emerenciano, Evelina Oliveira, Filipe Rodrigues, Humberto Nelson, Jas, Joana Rêgo, José Emídio, Manuela Pimentel, Mário Bismarck, Nettie Bunett, Paulo Neves, Rute Rosas, Susana Bravo, Teresa Gil e Zulmiro de Carvalho. “Discursos de Poder”, “Justiça Cega”, “Além da Balança”, “Clemência e Justiça” ou “Conflito” são apenas títulos de algumas das obras expostas, espelho de uma unidade temática interpretada das mais variadas formas e que nos vem dizer que a Arte irrompeu no Tribunal.

Tomando conta dos belíssimos Passos Perdidos do terceiro piso, “A Arte do Conflito” estabelece um interessante diálogo com o conjunto de cinco painéis a fresco que dominam o espaço, da autoria de António Coelho de Figueiredo, que procuram representar os últimos destinos do Homem: Morte, juízo, inferno e paraíso, com um painel central intenso e vivo, no qual é representado Moisés a aceitar os Dez Mandamentos no Monte Sinai, numa referência ao Código Divino. A cada peça a sua leitura, mas é impossível não estabelecer relações entre uma venda nos olhos e uma balança de onde pendem flores, um conjunto de alvos e a palavra “inimigo”, uma mulher a afogar-se e um dedo que aponta. Como afirma José Igreja Matos, Presidente do Tribunal da Relação do Porto, “(…) um renovado alento emerge nas obras de arte agora expostas. É tempo de ir ao encontro de uma escolha que abjura a violência e celebra a paz, permitindo sair de nós mesmos, ao encontro do que é único, irrepetível.”

Sem comentários:

Enviar um comentário