CONCERTO: “Amália Hoje”
Com | Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, Fernando Ribeiro, Paulo Praça
Sol da Torreira 2024
Largo da Varina
27 Jul 2024 | sab | 22:00
São dez da noite no Largo da Varina. Para uns é o culminar de um dia de praia excelente, tornado mais excelente ainda pela possibilidade de desfrutar de um magnífico pôr-do-sol numa esplanada, com um peixinho grelhado e um branquinho gelado à frente, a fazer horas para um concerto que está prestes a começar. Servindo de anteparo mútuo ao vento fresco que teima em não desmobilizar, é muito o público que se vai acumulando em frente ao palco montado junto ao icónico Assembleia Theatro da Torreira. E eis que os primeiros acordes se fazem ouvir, logo seguidos das vozes de Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, Fernando Ribeiro e Paulo Praça. São eles que põem em palco o projecto “Amália Hoje”, prestando um sentido e sincero tributo a Amália Rodrigues no 25º aniversário do seu desaparecimento. Com Mário Barreiros na bateria, Israel Costa Pereira na guitarra, Carl Minneman no baixo e um coro de sete elementos, o concerto começa da melhor forma ao trazer para primeiro plano“Com Que Voz” e a poesia de Camões, no ano em que se comemoram os quinhentos anos do nascimento do poeta e autor de “Os Lusíadas”.
Falando um pouco deste projecto, “Amália Hoje” materializou-se num trabalho discográfico em 27 de Abril de 2009, na sequência de um convite da Valentim de Carvalho a Nuno Gonçalves para que reinterpretasse algumas canções do vasto catálogo da “Diva do Fado”, numa altura em que se cumpria uma década do seu falecimento. Tendo plena liberdade de escolha das composições, dos seus colaboradores, dos arranjos e de toda a direção musical, o mentor do projecto quis deixar de fora a guitarra portuguesa, substituindo-a por uma panóplia de instrumentos onde se juntam a guitarra elétrica e a bateria, os sintetizadores, as programações, um naipe orquestral e um coro. Respigado o conjunto da obra de Amália, fez-se “uma escolha pessoal dos fados, mas ao mesmo tempo uma escolha que não é óbvia”, levando o projecto ao encontro de “composições que tivessem espaço para crescer e que tivessem uma sensibilidade pop inata”. Assim nasceram nove fados imortalizados por Amália Rodrigues e vestidos com uma roupagem pop contemporânea, na certeza de que “Amália foi muito mais do que Fado”. O projecto acabaria por fazer o seu caminho e, após uma longa pausa, regressa agora aos palcos com algum material novo e a energia e emoção de sempre.
Pois se era de tributo o concerto, que todos se unissem no abraço a Amália e isso incluía, naturalmente, o público. Um público que soube dizer “presente”, que “fez do silêncio um grito” e mostrou “que perfeito coração” é aquele que, perfeito, cabe na sua mão. Paulo Praça trouxe-nos “Nome de Rua”, Fernando Ribeiro sambou a “Formiga Bossa Nova” e Sónia Tavares interpretou “Medo”. Embalados pelo público, os músicos seguiram em frente com um alinhamento que mereceu, sempre, um forte aplauso, apesar de haver arranjos melhores do que outros. Cabe aqui um parêntesis para o fado “Abandono”, por muitos conhecido como “Fado Peniche”, que trunca uma parte do poema de David Mourão Ferreira e lhe rouba a emoção ao transformar o refrão naquilo que mais parece um “trava-línguas”. Até ao final ainda pudemos escutar fados tão intensos como “Rasga o Passado”, “Fado Amália”, “Fado Português”, “Foi Deus” e até um inesperado “L’Important C’est La Rose”, um tema de Gilbert Bécaud cantado por Paulo Praça “num francês das Caxinas”. O encore trouxe com ele a surpresa de um pequeno filme, uma conversa de Amália Rodrigues com Alain Oulman em torno do ensaio de “Soledad”, um tema inédito de Amália sobre um poema de Cecília Meireles. E foi com “Soledad” que chegou ao fim “Amália Hoje”, momento nostálgico, repleto de música e poesia, que a todos encantou.
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