CONCERTO: Paquito d’Rivera
Com | Paquito d’Rivera (saxofone e clarinete), Pepe Rivero (piano), Sebastián Valverde (vibrafone), Gastón Joya (contrabaixo), Georvis Pico (percussão)
Convidado | Alexei León (flauta)
FIME - 50º Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório de Espinho - Academia
06 Jul 2024 | sab | 22:00
A fazer fé nas suas palavras, há demasiado tempo que Paquito d’Rivera não visitava o nosso país. Daí que esta sua presença fosse aguardada com enorme expectativa e os bilhetes para o concerto no Auditório de Espinho tenham esgotado muito rapidamente. Afinal, não é todos os dias que há a possibilidade de escutar uma referência do jazz, cuja longa e premiada carreira internacional faz dele “uma instituição no mundo global da música”. Desde criança que Paquito d’Rivera parecia destinado a tornar-se numa figura icónica, quer porque a riqueza musical do caribe lhe corre nas veias, quer porque a sua família cultivava a música (o pai praticava saxofone “vinte e seis horas por dia”) e desde muito novo o incentivou a tocar. O futuro acabaria por confirmá-lo, numa carreira de mais de seis décadas ao longo da qual acabaria por garantir, por direito próprio, o estatuto de estrela maior no firmamento do jazz.
Foi esta enorme personalidade da cena jazzística mundial que o público teve a oportunidade de escutar na noite do passado sábado, começando por ouvi-lo falar das saudades que já tinha do nosso vinho verde e do bacalhau e percebendo nas suas palavras o lamento por ter esperado tanto tempo pelo regresso a Portugal. Alternando entre o saxofone e o clarinete, Paquito d’Rivera fez assentar na improvisação uma música que atravessa as barreiras estilísticas do jazz de inspiração latina e a música erudita. Numa noite de ritmos quentes e festivos, essa plasticidade fez-se sentir de forma intensa, reforçada pela qualidade e cumplicidade de um quarteto onde pontificaram o pianista Pepe Rivero, o vibrafonista Sebastián Valverde, o contrabaixista Gastón Joya e o baterista Georvis Pico, reforçado em dois momentos (um deles já no encore) pelo flautista Alexei León, a título de convidado.
Com um alinhamento variado e versátil, esta foi uma noite em que o jazz e a música clássica quiseram dar-se as mãos. O primeiro momento desta ligação surgiu com “Nocturno en la Celda”, uma composição de Pepe Rivero a partir do Noturno em Mi-bemol maior, de Chopin. Mas foi com Mozart e o segundo andamento do concerto para Clarinete e Orquestra, que essa união se impôs de forma intensa e viva, primeiro com a “descoberta” de que “se trata de um blues”, e depois pondo os presentes na sala a trautear algumas das mais emblemáticas peças do “Joãozinho”. Temas como “El Basstronauta”, “Fantasia Impromptu”, que Rivero escreveu em memória de Ernesto Lecuona, “Miriam”, de Bebo Valdés, “I Missed You Too”, a celebrar o reencontro de Paquito d’Rivera e Chucho Valdés, ou “Mambo Influenciado”, do próprio Chucho, mesclaram um concerto “clássico” com o melhor do jazz. A rematar, dois temas “do maior compositor de jazz do século XX”, Dizzy Gillespie, foram “a cereja no topo do bolo”, a sala inteira a cantar e a celebrar a fraternidade em torno da música. Memorável!
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