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segunda-feira, 13 de maio de 2024

CONCERTO: António Zambujo



CONCERTO: António Zambujo
Centro de Artes de Águeda
12 Mai 2024 | dom | 21:30


Tentar encontrar a palavra certa para descrever a música de António Zambujo é tudo menos fácil. Será algo no cruzamento da pop com as músicas do mundo, do moderno com a tradição, do caso sério com a comédia de costumes. Independentemente daquilo que lhe queiramos chamar, a verdade é que a sua música escuta-se sempre com agrado, não se esgota num par de audições, oferece-se em roupagens diferentes a cada nova vez que se faz ouvir, leva-nos a alinhar versos uns nos outros, a cantá-los, a trauteá-los, a assobiá-los. Com António Zambujo, temos a certeza de que o tempo de um concerto é um tempo de sorrisos e despreocupação, de atirar as agruras do quotidiano para trás das costas, de proximidade e partilha. Por isso não nos cansamos de o acompanhar onde quer que vá, seja sozinho em palco, como em S. João da Madeira ou em Ílhavo, na companhia de um coro de mulheres búlgaras, como em Águeda, com uma banda consistente, como em Albergaria-a-Velha, ou com o rancho de cantadores de Aldeia Nova de S. Bento, como na Casa da Música, em Estarreja ou na praia do Furadouro. Por isso orientámos, uma vez mais, os nossos passos ao seu encontro, para o escutar e ao seu último álbum, “Cidade”, lançado em Novembro do ano passado.

Foi perante um auditório do Centro de Artes de Águeda completamente esgotado que António Zambujo subiu ao palco, trazendo com ele João Moreira no trompete, Francisco Brito no contrabaixo, André Santos na guitarra, João Salcedo no piano e Bernardo Couto na guitarra portuguesa. Fazendo incidir o alinhamento do concerto na variedade da sua discografia - dois temas deste álbum, um tema do seguinte… -, Zambujo teve para oferecer ao público uma súmula dos seus maiores êxitos, onde não faltaram os incontornáveis “Catavento da Sé”, “Flagrante”, “Zorro” e “Pica do 7”. Max esteve em destaque no conjunto de temas trazidos a palco, com Zambujo a prestar uma sentida homenagem a esta figura central da música popular portuguesa, ao interpretar quatro músicas do popular cantor madeirense. “Noites da Madeira”, “Sinal da Cruz” e “Nem às Paredes Confesso” receberam do público prolongadas ovações, com Zambujo a regressar a Max para o tema que encerrou o concerto e que pôs toda a gente a cantar “A Mula da Cooperativa”.

A “contabilidade” diz-nos que foram vinte os temas interpretados em quase uma hora e meia de concerto. Os quatro temas de Max só encontraram paralelo nas músicas que o cantor seleccionou do álbum “Cidade” - “Nas Bocas do Mundo”, “Sagitário”, “Lua” e “Dancemos um Slow” - e que, apesar da sua juventude, já começam a entrar no ouvido à força de passarem na Rádio e vão fazendo o seu caminho, destinadas a transformarem-se em êxitos incontestados. O facto de António Zambujo se ter feito acompanhar por todos estes músicos enriqueceu sobremaneira o espectáculo, refrescando temas muitas vezes escutados e acrescentando-lhes novas sonoridades. Outro aspecto muito interessante foi, para quem teve a oportunidade de assistir a algum concerto das séries “Casca de Noz”, perceber o muito que existe de Miguel Araújo em António Zambujo, cúmplices no que de melhor a música portuguesa tem tido para oferecer nos anos mais recentes. E foi bom regressar aos “Flinstones” ou a “Readers Digest”, “derreter” com a ternura de “Algo Estranho Acontece” ou dar um primeiro beijo “dentro do Expresso, já de volta ao Alentejo”, parar a rua inteira “só com uma voz e uma guitarra” ou ser apanhado em “Flagrante” com as calças na mão. Venham mais concertos que a gente vai lá estar!

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