CONCERTO: Mário Costa Quarteto
Ovar em Jazz 2024
Centro de Arte de Ovar
17 Abr 2024 | qua | 21:30
O Ovar em Jazz está de regresso com a sua sétima edição. Assente numa programação diversificada e de enorme qualidade, que o vem consolidando como um dos grandes eventos do género no nosso país, o Festival volta a oferecer, ao longo de quatro dias, um conjunto de momentos fortemente alicerçados no melhor que o Jazz pode oferecer, combinando a aprendizagem com a experimentação, a escuta com a festa e a celebração. O “pontapé de saída” foi dado na noite de ontem, cabendo ao Mário Costa Quarteto o momento inaugural com a chamada para primeiro plano de “Chromosome”, o mais recente trabalho discográfico do agrupamento. Depois dos merecidos elogios ao seu álbum de estreia “Oxy Patina” – considerado pela Jazz.pt como o “melhor disco de jazz nacional” em 2018 –, e da recente nomeação de “Chromosome” para os Prémios Play na categoria de Melhor Álbum de Jazz, este concerto era aguardado com natural expectativa e o mínimo que se pode dizer é que não defraudou os presentes, saldando-se por uma extraordinária noite.
Partilhando com os músicos o intimismo da caixa de palco do Centro de Arte de Ovar, o público teve a oportunidade, desde os momentos iniciais, de perceber a noção de “cromossoma” que subjaz ao título do concerto e do álbum. Gileno Santana no trompete, Benoît Delbecq no piano, sintetizadores e samplers, Bruno Chevillon no contrabaixo e Mário Costa na bateria, fizeram questão de mostrar as formas e cores do material genético que incorpora a sua música, dissecando, nas componentes estruturais, o ritmo e a harmonia, pondo em evidência a “tetraploidia” que é, neles, sinónimo de cumplicidade, e fazendo dos emparelhamentos, translocações e crossovers entre si, momentos de intimidade e liberdade, prazer e fruição. Ao rigor e talento da sua escrita, junta Mário Costa o cuidado pelas particularidades de cada um dos músicos, o respeito pela sua individualidade, o valor do seu ADN, material genético onde a ousadia se combina com a irreverência, a subtileza com a elegância, a versatilidade com a espontaneidade e a genialidade.
Sem território definido, entre o clássico e a vanguarda, o swing e o experimental, com uma não desprezível componente electrónica e um piscar de olho ao rock, o concerto começou por propor uma viagem em águas abertas ao encontro de um tremendo “Adamastor”. Com Mário Costa ao leme, dobrada a tormenta, foi o Pacífico que se abriu à nossa frente, numa subversão geográfica, uma daquelas excentricidades metafóricas que fazem parte do ADN do próprio Jazz. O trompete de Santana conduziu-nos às ilhas “Moluccas” e daí seguimos até à Lua, experimentando a gravidade zero de “Moonwalk”, impulsionados por Chevillon e pelo seu contrabaixo em registo minimalista. Descemos então à terra, ao corpo, ao núcleo do núcleo da célula e percebemos a maravilhosa diversidade de “Chromosome”. Enfim, tocados pelo melodrama, contemplámos a tenda de circo remendada, os palhaços tristes e o amor impossível do trapezista por “Victoria”, a rapariga de tranças que vende bilhetes, chupa-chupas e batatas fritas. Fazendo a ponte com o ábum anterior, “Erosion” fechou a noite da melhor forma. Um concerto memorável, que podemos classificar numa palavra apenas: Perfeição!
[Foto: Ovar/Cultura]
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