CONCERTO: Bruno Pernadas
Centro de Artes de Ovar
15 Mar 2024 | sex | 21:30
Foi em ambiente de festa e com casa esgotada que o Centro de Artes de Ovar recebeu o concerto de celebração do 10º aniversário do álbum de estreia de Bruno Pernadas, “How can we be joyful in a world full of knowledge?”. Uma década em que o meu desconhecimento do universo musical deste que foi já designado por “meteorito” foi praticamente total, o que me levou a abraçar sem reservas a possibilidade de ouvir o que o músico tinha para mostrar, longe de imaginar o turbilhão de sensações e emoções que me esperava. A primeira surpresa veio com os nove elementos em palco – quase uma “big band”, com a respectiva secção de metais –, entre os quais descortinei o saxofonista João Capinha, a trompetista Jéssica Pina e a guitarrista Francisca Cortesão, gente conhecida de outras andanças. Mas a surpresa maior veio graças ao engenho, inspiração e bom gosto dos temas compostos por Pernadas para este disco, distintos e harmoniosos, leves e densos ao mesmo tempo, geradores de imagens inesperadas e surpreendentes, como que atravessadas pelo cinema de Lynch, Kubrick ou Tarantino.
A propósito desta tour festiva, Rui Catalão escreveu: “Dez anos depois, quatro álbuns impecáveis e muitas bandas sonoras para filmes e espetáculos, o meteorito Bruno Pernadas continua a orbitar tranquilamente o nosso planeta. Com ouvintes espalhados um pouco por todo o mundo, a sua música está reservada a gente esclarecida com o sentido da alegria momentânea. Em cada novo tema, em cada nova canção (que no seu caso parecem várias canções dentro de uma só canção, como um álbum em miniatura), ele reinventa essa arte combinatória de viagem e descoberta que herdámos do barroco e que só por fogachos de distração se vai mantendo viva, quando memória, técnica e intuição se alinham. O título do seu primeiro disco veio a revelar-se um oráculo orientador do seu trabalho: como ter alegria num mundo soterrado em conhecimento? Como voltar à sensação de descobrir o paraíso que é música num cenário em que tropeçamos em tanta cópia e imitação?”
Pautando o alinhamento do concerto pela fidelidade ao álbum faixa a faixa, o artista foi abrindo uma verdadeira caixa de pandora e revelando as múltiplas faces de um projecto com uma boa dose de experimentalismo a unir a música folk ao jazz, a pop à world music, a electrónica ao rock psicadélico. O ecletismo da música de Bruno Pernadas faz com que sejam sedutores e envolventes os quatro cantos do seu mundo musical, intrigantes nas suas linhas, convergentes no seu colorido. Num convite à viagem, o artista propõe um conjunto de geografias indefinidas que são um desafio à nossa imaginação. “Indian Interlude” é um passeio à beira-mar, “Pink ponies don’t fly on Jupiter” é uma tarde a ler numa cama de rede, “Première” é um piquenique na floresta e “L.A.” é L.A., seja lá o que isso for. A solaridade que se desprende de cada música abraça e conforta. Afinal, de que forma podemos ser felizes num mundo atulhado de conhecimento? Seminal, a questão tem na música de Bruno Pernadas uma resposta bem simples.
[Foto: Joana Linda | Culturgest - Fundação CGD https://www.facebook.com/culturgest/]
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