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quarta-feira, 20 de março de 2024

LUGARES: Museu José Malhoa



LUGARES: Museu José Malhoa
Parque D. Carlos I, Caldas da Rainha
Horário | 10h00-12h30 e 14h00-17h30; encerra às segundas
Ingressos | € 3,00 (bilhete normal)


Primeiro edifício a ser projetado para fins museológicos em Portugal, o Museu José Malhoa integra o maior núcleo reunido de obras do seu patrono e em seu torno organizam-se as colecções de pintura, desenho, escultura, medalhística e cerâmica das Caldas, de finais do século XIX a meados do século XX, apresentando-se com um museu do Naturalismo português. Nascido a 28 de Abril de 1855, nas Caldas da Rainha, José Malhoa frequentou a Academia Real de Belas-Artes de Lisboa entre 1867 e 1875 e, a partir de 1881, integrou o Grupo do Leão. A sua obra fundamenta-se no estudo da luz e do sol, como expressões privilegiadas de uma observação ao ar livre. Explorou intensamente a paisagem, desde as composições iniciais ainda ligadas aos ensinamentos românticos, até aos pequenos formatos, mais adequados aos registos dos percursos pelo campo. Repartindo a sua actividade entre Lisboa e Figueiró dos Vinhos, foi inspirado pelos campos e gentes desta última região, permitindo-lhe traçar o retrato dum país rural e simples.

Num percurso circular ao longo de vários espaços expositivos, os primeiros olhares recaem no chamado Romantismo Tardio e no pré-Naturalismo, graças ao trabalho de pintores como Tomás de Anunciação, Ângelo Lupi ou Alfredo Keil e de escultores como Soares dos Reis e Simões de Almeida. Percebe-se que os episódios tradicionais da Mitologia e da História Nacional, tão ao gosto Romântico, vão cedendo lugar ao quotidiano, embora os motivos permaneçam tratados em atelier, segundo uma visão idealizada. O núcleo seguinte evoca o “Grupo do Leão” – nome que tem a sua origem na Cervejaria Leão d’Ouro, em Lisboa –, articulado em torno de Silva Porto e que agrupava nomes como Columbano, Rafael Bordalo Pinheiro, José Malhou, Moura Girão e outros. É com ele que assiste a um corte com os esquemas românticos e académicos de produção artística portuguesa para dar lugar a uma nova aceitação da natureza e da realidade, tomadas como modelo, objecto de estudo e de observação directa.

Outra sala leva-nos ao encontro do Centro Artístico Portuense, responsável por muita da animação da vida cultural da cidade Invicta no último quartel do século XIX. É lá que encontramos os pintores Marques de Oliveira, Artur Loureiro e Henrique Pousão, e o escultor Teixeira Lopes, entre outros. Com o Naturalismo a impôr-se como tendência artística dominante até meados do século XX, definindo um longo ciclo na vida artística nacional, as salas seguintes dão a ver um conjunto de obras de pintores como Carlos Reis, Luciano Freire, Veloso Salgado, Falcão Trigoso, Eduarda Lapa, Jaime Isidoro e de escultores como João da Silva, Henrique Moreira ou Anjos Teixeira. Para o final está reservado um olhar sobre aquilo que é designado por “sinais de mudança” e que nos diz da crescente disponibilidade de artistas para explorar uma variedade de experiências modernistas. São os casos das experiências geometrizantes nas paisagens de Fred Kraldorfer, da escultura abstracta de João Fragoso, da influência cubista na pintura de Delfim Maya ou das preocupações sociais de Manuel Filipe, em estreita vinculação com o Neo-Realismo de então.

As propostas do Museu José Malhoa, no entanto, não se quedam por aqui. Os amantes da aguarela vão poder apreciar obras de Alberto Sousa, António Vitorino, Alfredo Roque Gameiro ou do próprio Rei D. Varlos. No âmbito do retrato, há trabalhos notáveis de Eduardo Malta, Henrique Medina e do próprio José Malhoa. Nas experiências modernistas sobressaem uma extraordinária “Composição” de Eduardo Viana, um nu de Rui Roque Gameiro, o cromatismo de Sousa Lopes, a matriz neocézanneana de Dórdio Gomes ou os tratamentos geometrizantes das naturezas-mortas de Abel Manta e Henrique Franco. Há ainda uma sala dedicada a Rafael Bordalo Pinheiro e à arte do barro nas Caldas da Rainha, na qual se podem apreciar as cerca de sessenta figuras da “Paixão de Cristo” (1887-1899), encomenda do Estado a Rafael Bordalo Pinheiro, originalmente destinadas às Capelas dos Passos da Mata do Buçaco. A colecção transborda os limites do edifício e inclui uma exposição de esculturas no Parque D. Carlos I, onde se situa o Museu. Entre as árvores e os jardins do Parque, os visitantes podem conhecer trabalhos de vários artistas e gerações, como Leopoldo de Almeida, Leonor de Albuquerque Bettencourt e João Fragoso.

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