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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Together in Our Spirits"



EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Together in Our Spirits”,
de Oscar Murillo
Curadoria | Inês Grosso, Filipa Loureiro
Museu de Arte Contemporânea de Serralves
30 Nov 2023 > 26 Mai 2024


“Gesto poético em prol do colectivo”. É desta forma que Oscar Murillo considera “Together in Our Spirits”, mostra de pintura e instalação que oferece um vislumbre de como uma exploração multifacetada de temas como a colectividade, a comunidade, os rituais e a espiritualidade, acompanhados de considerações sobre a desigualdade social, a globalização e as tensões geopolíticas, se revela na obra do artista. Primeira exposição numa instituição museológica em Portugal, a mostra abre com uma coleção de esculturas que podem ser vestidas, intitulada “Arepas y Tamales”. Estas esculturas têm a sua origem num dos projetos mais ambiciosos e inovadores do artista até à data, “Frequencies”, que parte da visita a escolas em cujas mesas das salas de aula são fixadas telas cruas que os alunos irão marcar, consciente ou inconscientemente, ao longo de seis meses. Produzidas em escolas portuguesas durante os meses que precederam a exposição, as telas de “Frequencies” mostram-se aqui em grandes mesas que o visitante é convidado a explorar.

O conjunto encontra-se rodeado por pinturas de grandes dimensões da série “Disrupted Frequencies”, criadas a partir da intervenção nas peças de “Frequencies”, através da selecção de exemplares que são cosidos uns aos outros, sobrepondo-lhes marcas fortes criadas com barra de óleo. Em conjunto, estes trabalhos subvertem ou interferem com o projecto intelectual do arquivo: em vez de apresentar amostras cuidadosamente ordenadas e conservadas que se reivindicam como portadoras de uma verdade superior, o artista opta pela colisão de energias de diferentes contextos geográficos, sociais e culturais. Num outro espaço, Murillo apresenta três conjuntos de obras muito diferentes, que combinam elementos pictóricos e escultóricos. Penduradas nas paredes estão três novas pinturas de grandes dimensões da série “Surge”, as quais, suspensas de ganchos metálicos, adquirem uma qualidade escultórica. O seu subtítulo, «cataratas sociais», alude à progressiva perda de claridade ou escuridão provocada por esta doença degenerativa e à ideia de “cataratas sociais”, consequência da nossa falta de consciência ou sensibilidade para questões de ordem social e política.

Exemplares de menores dimensões das pinturas são apresentados numa instalação que ocupa o centro do espaço e que tem como título “Mesmerizing Beauty”. A instalação consiste em peças emolduradas realizadas sobre papel e montadas em suportes de madeira presos a cadeiras de jardim de plástico branco. Estas cadeiras foram utilizadas repetidamente por Murillo em vários trabalhos e performances, sendo reconhecíveis como peças de mobiliário populares e económicas em muitos países. Sugerem reuniões de família ou comunitárias e, para Murillo, têm fortes conotações com algo descartável, fazendo referência à natureza transitória dos encontros. Juntas, congregam-se em torno do vídeo do artista, “Collision of Intent”, projectado na parede do fundo da sala. Para Murillo, a história desta obra demonstra o seu interesse na contextualização da cultura e no famoso mural de Diego Rivera para o Rockefeller Center, que não chegou a ser exposto.

Na Capela da Casa de Serralves, Murillo apresenta dois trabalhos site-specific. O primeiro é uma nova pintura da sua série “Manifestation”, vista como “um confronto com o Eu”, que se relaciona com lugares de culto enquanto sítios de introspecção e, nalgumas tradições, de culpa e auto-condenação, bem como lugares intimamente ligados à história da arte. O segundo trabalho é uma peça da série “Telegram”, mais um ramo evolutivo que deriva do projeto colaborativo de longo termo do artista, “Frequencies”. Murillo interagiu com estas telas de diversas formas ao longo dos anos, considerando-as “dispositivos de registo” das energias de diferentes indivíduos e espaços geográficos. Para a série Telegram, Murillo intervém numa tela individual de cada vez, como que “sintonizando” ou interceptando informações que estão a ser transmitidas. Através desta íntima interacção, Murillo continua a explorar o quadro conceptual que está na raiz do projecto e cujo título sugere ideias de colaboração e ligação entre os indivíduos à distância.

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