EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “A Tentação dos Significados”,
de Benvindo de Carvalho
Cooperativa Árvore – Sala 1
13 Jan > 17 Fev 2024
Uma gaveta aberta, uma moldura, uma tina. Geométricas, as formas oferecem-se ao olhar do visitante de forma vaga, esbatidas pelos tons em vermelho que lhes emprestam um ar de irrealidade. Uma mancha mais clara pode ser tudo: um pano do pó ali pousado, um vestido deixado ao acaso, um saco de plástico desfeito. Reparo melhor. Talvez uma tina, sim. No espaço de um laboratório de fotografia… com aquela luz… o artista fora de cena… a imagem prestes a revelar-se. No aconchegante espaço da Cooperativa Árvore, é fácil perdermo-nos na contemplação dos trabalhos de Benvindo de Carvalho e cair na tentação de lhes atribuirmos um significado. Ancoradas na abstracção, levemente figurativas, as composições apelam à nossa sensibilidade e memórias, abrindo-se a múltiplas leituras, num raio de luz como na sombra disforme, nas linhas que divergem como nas texturas contrastantes. A legenda refere “Terra Queimada”, mas eu fico na minha: Uma tina é uma tina é uma tina.
O exercício prolonga-se por trabalhos com os sugestivos nomes de “Tarde de Verão”, “Lugar Esquecido”, “Horizonte Azul” ou “Cavalgando a Espuma”. Na cor – sempre a cor –, implícita nos títulos e explícita na tela, impera uma lógica que ultrapassa a mera sugestão e se apresenta de forma expressiva em paisagens vivas e livres. Benvindo de Carvalho convida a mergulhar na sua pintura, a desvendar os elementos que lhe servem de inspiração, a percebê-los no que encerram de enigma e fascínio, a partir em busca de outros objectos, de novas realidades. Propositadamente interrompidas (inacabadas?), as narrativas pedem um olhar que as prolongue, um coração que as complete. São poemas de esplendor e sombra, vertidos em palavras que tocam os sentidos e apelam à memória, trazendo com elas ternura e afecto, zelo e devoção.
Benvindo de Carvalho nasceu na freguesia de Abadim, concelho de Cabeceiras de Basto, em 1947. Obteve o Curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes do Porto e da Escola de Artes Soares dos Reis, tendo sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1966/68. É co-fundador da Galeria do Barredo no Porto e Domus Arte em Matosinhos. Desde 1965, expõe escultura, pintura e desenho, tendo realizado dezenas de exposições individuais e participado em inúmeras coletivas e de grupo. Sobre ele, escreveu António Cardoso: “A geração de Benvindo de Carvalho é a de Graça de Morais, Carlos Carreiro… ou a do magistério de José Rodrigues, Ângelo de Sousa e Jorge Pinheiro (…). Sempre o vi e revi como pintor, entre sínteses, aflorações e fidelidades, num ‘fazer’ de sensibilidades (e alguma sensualidade) quase livre como Rimbaud, trabalhando livremente a contra-a-corrente, a bel-prazer…”. A exposição estará patente até 17 de Fevereiro.
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