EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Os Trabalhos e os Dias”,
de Leonel de Castro
The Cave Photography
08 Dez 2023 > 16 Mar 2024
Encravado num vale fundo do Alto Douro Vinhateiro, à sombra de uma majestosa fraga amarela, Lagares do Douro é um pequeno povoado de meia dúzia de casas, das quais creio que apenas duas habitadas. É lá que costumo passar férias, longe de tudo, envolto pela paisagem que se estende até ao rio e mais além, o olhar mergulhado numa profusão de verdes ou dourados das vinhas e no azul do céu, intenso, irreal. Não longe dali fica Vilarinho da Castanheira, sede de Freguesia, outrora cabeça de um extenso território a quem D. Afonso II, D. Dinis, D. Pedro e D. Manuel I outorgaram ou reconheceram forais, hoje uma pequena aldeia que, do alto, domina a paisagem. O seu Museu da Memória Rural, do qual já falei AQUI, é um lugar mágico, que nos faz recuar no tempo ao encontro da história e da memória dos lugares. Muito dessa magia deve-se a Leonel de Castro, cujas imagens ilustram as artes e ofícios que se agrupam em núcleos e que tão bem nos contam o viver e o sentir destas gentes.
Por estes dias, revisito o Douro neste reencontro com o olhar atento e sensível de Leonel de Castro. São dele as fotografias que ocupam o espaço da “The Cave Photography” e que pode ser visitado de quarta a sexta-feira, entre as 16:00 e as 20:00. Ali podemos ver “Os Trabalhos e os Dias”, conjunto de fotogramas que fixam “a perpétua dor de tirar maravilhas a uma terra que não é oferecida como as lezírias nem extensa como as planícies”. Para além de uma paisagem que começa a ser-me familiar, aquilo que de mais marcante encontro nestas imagens é a expressão, nas mãos e nos rostos das gentes, do tal “Reino Maravilhoso” de Miguel Torga e que Jaime Cortesão definiu como “mais belo e o mais doloroso monumento ao trabalho do povo português”: o Douro. Gente de proveniências diversas, alguns de bem longínquas paragens a julgar pelos turbantes, mas habitados pela mesma paisagem esmagadora e pela mesma dureza que assiste à jornada.
“Douro é vinho e fruto arrancado às fragas. É azeite luminoso roubado às oliveiras contorcidas na paisagem, limpo do sangue e suor com que nasceu, porque Douro é também gente, é o somatório das vidas obstinadas dessa gente de trabalho”, diz Leonel de Castro. “Povo de trabalho, sem fim nem redenção, em socalcos rasgados à mão e pomares postos no planalto. Povo a que escapam a crise, a austeridade, a Troika, o país que se arrasta. Nunca este povo viveu de outra maneira”, acrescenta. “Os Trabalhos e os Dias” é uma homenagem sincera e sentida às gentes do Douro e, em particular, àquelas de Ansiães, “ocultos artífices dessa maravilhosa paisagem que Deus ao homem deu para construir. Como penitência, talvez, como forma de conquistar o Céu, dorido Céu.” Siga o meu conselho e não perca esta exposição. Mas antes de ir, telefone, para que não lhe aconteça o mesmo que a mim, que bati com o nariz na porta e tive de me contentar com a metade da exposição que ocupa o espaço exterior da galeria.
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