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sábado, 10 de fevereiro de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Factum"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Factum”,
de Eduardo Gageiro
Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
27 Jan > 05 Mai 2024


Amália Rodrigues. 6 de julho de 1994, 01h30
Para fazer este retrato da Amália, estive boa parte da madrugada a fotografá-la. Começámos por volta da 01h00. Cheguei a um ponto em que já não sabia bem o que fazer, porque ela era capaz de estar uma noite inteira a ser fotografada. Até que me lembrei de lhe pedir o seguinte: “Ó Amália, agarre na guitarra como se fosse uma pessoa de que você goste muito! E agora olhe para cima e pense em alguém que a tivesse amado muito.” Passado um bocado, dizendo-lhe que se preferisse podia não responder, perguntei-lhe em que é que estava a pensar. E ela respondeu: “Na minha mãe e em Deus.”

Eduardo Gageiro andaria pelos 12 anos de idade quando começou a fotografar. A máquina era de um irmão e tinha a particularidade de ser de plástico. Foi com ela que fez várias fotografias que enviou para o Diário de Notícias e que, para grande espanto seu, viriam a ser publicadas na primeira página do jornal. O entusiasmo que daí adveio fez com que o “bichinho” da fotografia tomasse conta de si de forma indelével, nunca mais deixando de captar a realidade que o rodeava e impressionava. Nascido em Sacavém a 16 de Fevereiro de 1935, trabalhou desde muito novo na Fábrica de Loiça de Sacavém. O contacto diário com pintores, escultores e operários fabris aguçou-lhe a curiosidade artística e foi decisivo na sua opção de abandonar a fábrica e seguir a sua vocação. Os prémios de fotografia que foi conquistando abriram-lhe as portas do jornal “Diário Ilustrado”, como técnico de laboratório. Daí transitou para o jornal “O Século”, já como repórter fotográfico. “Eva”, “Almanaque”, “Match Magazine”, “Associated Press” e a revista “Sábado”, da qual foi editor, foram algumas das suas muitas casas em mais de 75 anos de carreira.

Desse percurso intenso e imensamente rico, traduzido em centenas de milhares de fotogramas, chega ao nosso olhar uma breve mas significativa amostra com o título “Factum”. Ocupando os dois pisos do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, a exposição procura dar conta da excepcionalidade ética do olhar do fotógrafo perante diferentes realidades e oportunidades. As 167 fotografias que a compõem, relevam o seu olhar crítico sobre acontecimentos, modos de vida e personalidades diversas da história recente do nosso país. Destacam-se, neste âmbito, algumas das imagens mais significativas do 25 de Abril de 1974, entre outras séries de trabalhos, que mostram as convulsões políticas, sociais e culturais a que o país tem estado sujeito, desde a década de 1950 até aos nossos dias: o trabalho nas fábricas, no campo ou na construção civil, a emigração, a repressão policial do Estado Novo, as manifestações populares, a religião, a revolução e os bastidores da política, personalidades várias e vários outros assuntos. A fotografia mais recente foi tirada no desfile do 25 de Abril de 2023, em Lisboa. A mais antiga data de 1953 e retrata uma cena campestre na sua terra natal.

“Factum” mergulha o visitante num ambiente de inquietação e fascínio, tão icónicas e impressivas são as imagens mostradas. Não raras vezes, cruzamo-nos com uma imagem sobejamente conhecida e cujo autor era desconhecido até então (ou julgávamos ser outro o autor). Por outro lado, são várias as imagens que vêm acompanhadas de textos preciosos, como aqueles do encontro com o General António de Spínola no seu barbeiro da Rua do Ouro, das peregrinações à chamada “Santa da Ladeira”, da carga da PSP sobre manifestantes no dia 5 de Outubro de 1960 ou de Salazar no Forte de São João do Estoril. Há ainda os retratos de figuras tão importantes como Mário Soares ou Ramalho Eanes, Sophia de Mello Breyner ou Eugénio de Andrade, Amália Rodrigues ou José Afonso, Rosa Mota ou Eusébio. E há o olhar de António Belchior, encarregado na Fábrica de Loiça de Sacavém, da viúva da Nazaré com a qual Gageiro ganhou 16 medalhas de ouro e foi parar à prisão, da mulher que carrega a criança ao colo nas terríveis cheias de 1967 ou do Capitão Salgueiro Maia a morder o lábio para não chorar. Nos 50 anos do 25 de Abril, uma exposição que é um documento essencial para a compreensão da história do País.

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