EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: “Paisajes Entretejidos”,
de Juana Fernandez
XVI Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro
Estação
28 Out 2023 > 28 Jan 2024
A presente edição da Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro está a chegar ao fim, mas é tempo ainda de apreciar o trabalho da artista galega Juana Fernandez, no espaço da antiga Estação da CP. Distribuídas por duas salas, as peças são significativas do trabalho mais recente da ceramista, nomeadamente as pertencentes às séries “Vaivenes” e “Medidas Variabiles” e ainda trabalhos de joalharia da série “Constelaciones”. Passear pelo mundo de Juana Fernandez é perceber na natureza a origem do seu trabalho, o quanto o vento ou uma paisagem servem de inspiração e ponto de partida de novas formas, estruturas ou processos de crescimento. É deixar fluir os sentidos ao encontro de reflexões, emoções e memórias, experiências vitais que se materializam na argila.
O processo de trabalho de Juana Fernandez é intuitivo. Partindo de elementos simples, neles são perceptíveis a repetição do gesto e a impressão dos dedos como registos do processo. As peças nascem da reunião desses elementos, da forma como são agrupados, como se da construção de um puzzle se tratasse. O tempo lento e pausado que o trabalho implica faz também parte do produto final, integrando as formas e fazendo-se adivinhar em cada estrutura. Da exploração das propriedades da argila, do grés ou da porcelana nascem arquitecturas efémeras, pequenos habitats, abrigos, ninhos, conchas, peças compostas por finas lâminas de aspecto frágil e delicado. Óxidos e pigmentos acrescentam novos matizes às superfícies, elevando a capacidade de provocar e o poder de comunicar sensações de cada uma das peças.
Mas nem só de argila se faz o trabalho de Juana Fernandez. A incorporação do têxtil na cerâmica, mediante a construção de uma trama, acrescenta textura às superfícies, desenha um jogo de contrastes que resulta numa percepção mais sensorial e táctil, oferecendo ao conjunto novos significados e ressonâncias. A expressão, a intenção e a plasticidade tornam-se evidentes, convidam o visitante a experimentar, ele mesmo, o impulso criador, a energia, o gesto, a força, o impulso. O caminho é reflexivo e íntimo, tão próximo como uma carícia na nossa própria pele. Nalgumas obras encontramos uma inocente atitude naif, noutras é a cor a trazer ao nosso encontro o valor das coisas mais simples. Vale a pena mergulhar na poesia que cada trabalho de Juana Fernandez encerra, deixarmo-nos dominar pela música que deles se derrama e passear pelos mais ínfimos detalhes da sua obra.
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