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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: “A Poética da Erosão. A Obra Cerâmica de Cecília de Sousa”



EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: “A Poética da Erosão. A Obra Cerâmica de Cecília de Sousa”
XVI Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro
Galeria da Antiga Capitania
28 Out 2023 > 28 Jan 2024


Cecilia de Sousa nasceu em Lisboa em 1937. Aos 13 anos de idade, o pai inscreveu-a num curso de lavores femininos na prestigiada Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, mais adequada aos destinos domésticos tradicionais que eram então consagrados às mulheres, mas Cecilia rejeitou obstinadamente esta hipótese e conseguiu ser matriculada no Curso de Cerâmica. Esta impertinência juvenil, associada ao facto de ter tido como professor Manuel Cargaleiro, seria fundamental para a sua vida, revelando desde logo um temperamento afirmativo e perseverante que, como veremos, permitiu estruturar uma continuada carreira como ceramista. Concluído o Curso de Cerâmica em 1955, realizou no ano seguinte uma viagem a França e à Suiça, aí tomando conhecimento da obra de Rouault Modigliani e Vieira da Silva, facto assinalado com peso biográfico pela autora e que articula directamente com as suas escolhas estéticas. Ainda em 1956, mantém a colaboração com Manuel Cargaleiro na produção dos azulejos da fachada da Igreja de Santo António em Moscavide.

Em 1957, foi aceite a sua participação na Exposição de Artes Plásticas da recém-criada Fundação Calouste Gulbenkian. O primeiro reconhecimento do seu trabalho, mais do que serenar, estimulou ainda mais a inquietação e curiosidade em conhecer o que de melhor se fazia na disciplina que elegera como sua, a Cerâmica. Este facto levou-a a cumprir, no mesmo ano, uma breve passagem pelo Estúdio SECLA nas Caldas da Rainha, referência para a cerâmica moderna em Portugal, principalmente porque nesse Estúdio trabalhava a ceramista húngara Hansi Stael, tendo ficado como documento desta incursão de Cecília de Sousa uma pequena travessa com gestos caligráficos imbricados contra um fundo texturado. Ao fim de 11 anos de intenso trabalho, Cecilia participou em vinte e três exposições, cinco das quais no estrangeiro, e três individuais; recebeu quatro prémios nacionais em 1957, 1962, 1964 e 1965; executou encomendas para espaços públicos em Portugal e Espanha e colaborou com alguns dos nossos melhores arquitectos e decoradores.

Homenageada pela Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro, Cecília de Sousa dá-nos a ver “A Poética da Erosão”, através da qual revela a forma como explora todas as potencialidades da cerâmica, quer na concepção de painéis, quer de peças avulsas que tiram partido das texturas, dos brilhos e de todos os recursos técnicos que individualizam esta expressão artística. A sua obra é dotada de uma expressão poética, da linha e da cor, que ganha cada vez maior identidade e se acentua no contraste progressivamente matérico dos seus objetos. Num projecto de fachada para um hall de hotel, um salão de bowling, um refeitório de uma fábrica, uma estação de metro ou um cinema, como em peças de singular beleza como o “Disco” ou a “Placa”, as “Camarinhas Azuis” ou os “Sinais de Lisboa”, é visível a intenção com que a artista introduz nas suas criações o tempo, a erosão, a memória de criações e civilizações arcaicas, construindo peças que parecem quase arqueológicas, testemunhos de idades esquecidas e culturas ignoradas.

Não obstante o brutalismo evidente de alguns objetos, a desmesura das suas dimensões, todas são pontuadas por uma subtileza, uma doçura que nos cativa, não no imediato, mas quando nos perdemos observando-as, sentindo os acidentes e o desgaste a que foram sujeitas, um pouco como o rosto pode testemunhar uma existência feita de muitos momentos, traçado por inúmeras experiências, burilado pela vida. Assim é a obra de Cecília de Sousa, uma ceramista que partindo da lógica e estética do seu tempo descobriu, no seu percurso, o caminho da intemporalidade e que agora se dá a conhecer na Galeria da Antiga Capitania de Aveiro, integrada na XVI Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro. Exposição em cooperação com o Museu Nacional do Azulejo.

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