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domingo, 10 de dezembro de 2023

CINE-CONCERTO: "A Máscara de Ferro"



CINE-CONCERTO: “A Máscara de Ferro” / “The Iron Mask”
Acompanhamento musical | Filipe Raposo (piano)
Realização | Allan Dwan
Argumento | Elton Thomas (Douglas Fairbanks)
Fotografia | Henry Sharp, Warren Lynch
Montagem | William Nolan
Interpretação | Belle Bennett, Marguerite de la Motte, Dorothy Revier, Vera Lewis, Rolfe Sedan, William Bakewell, Gordon Thorpe, Nigel de Brulier, Ulrich Haupt, Lon Poff, Charles Stevens, Henry Otto, Leon Barry, Stanley Sandford, Gino Corrad, Douglas Fairbanks
Produção | Elton Corp
Estados Unidos | 1929 | Aventura, Drama, História | 95 Minutos | S/ classificação
Casa das Artes - Auditório 2
09 Dez 2023 | sab | 18:00

O rei Luís XIII de França fica radiante quando o seu filho nasce - um herdeiro do trono. No meio de tanta excitação, porém, poucos são os que se apercebem que a rainha deu à luz gémeos. Vendo num segundo filho um risco para a estabilidade do Estado, o Cardeal Richelieu envia a criança para Espanha, a fim de ser mantida em segredo e garantir um futuro pacífico para a França. Infelizmente, manter o segredo significa enviar Constança, amante de D'Artagnan, para um convento e este tudo irá fazer para a resgatar. A incursão tem um desfecho trágico e Richelieu vence os Mosqueteiros, exigindo que se separem para sempre e deixando a D’Artagnan a tarefa de proteger o jovem príncipe. Entretanto, De Rochefort descobre os planos de Richelieu e rapta o gémeo, criando-o em segredo. Vinte anos mais tarde, com Richelieu morto e o jovem príncipe coroado Luís XIV, Rochefort lança o seu plano. O Rei é raptado, substituído pelo seu gémeo, colocado com uma máscara de ferro para não ser reconhecido e levado para um castelo remoto para ser mantido prisioneiro. Mas Luís XIV consegue fazer chegar uma mensagem a D'Artagnan, que se apercebe que apenas os seus amigos Athos, Porthos e Aramis o podem ajudar. De novo reunidos, os Mosqueteiros fazem abortar o nefasto plano de De Rochefort, mas o custo será tremendamente elevado.

Além de um excelente divertimento, “A Máscara de Ferro” é também um verdadeiro documento histórico. Por um lado, é o último grande filme de “capa e espada” do período do cinema mudo. Representa também o derradeiro grande filme de Douglas Fairbanks, que coloca aqui um ponto final na colaboração com o realizador Allan Dwan. Finalmente, é um filme característico da fase de transição do cinema mudo para o sonoro. Manuel Cintra Ferreira, no apontamento que escreve para a Cinemateca Portuguesa aquando da exibição deste filme em janeiro de 2022, lembra que “a década de 20 vai tornar-se a primeira era de ouro dos filmes de capa e espada, graças sobretudo aos filmes que Fairbanks interpreta e que servirão também de modelo para os seus “herdeiros” (de Errol Flynn e Tyrone Power, ao seu filho Douglas Fairbanks Jr.). Além de Zorro ele vai ser D' Artagnan, Robin dos Bosques, o Ladrão de Bagdad e o Pirata Negro.” De facto, quem, como eu, não conhecia o filme, não pode deixar de ficar maravilhado com a sua dimensão fantasiosa e o seu sentido do entretenimento, a par dos pormenores técnicos e de um trabalho de iluminação e enquadramento verdadeiramente geniais. De surpresa em surpresa, uma questão vai ganhando forma até rebentar em grito: Como é que eu nunca tinha vista este filme antes?

Porque de um cine-concerto se tratou, importa falar da prestação de Filipe Raposo e da forma como acompanhou o filme ao piano. O momento fez parte da segunda edição do Festival de Jazz Bernardo Sassetti. O mesmo Bernardo Sassetti que, em 2000, escrevia: “Devo confessar que a música para cinema é a minha grande paixão mas que, durante muitos anos, esteve longe dos meus planos, nomeadamente quando decidi dedicar-me ao piano e, em particular, à música jazz. No entanto, em 1995, recebi da Cinemateca Portuguesa, um convite para acompanhar filmes mudos, em improvisos de piano solo, nas sessões que aquela instituição dedica a esse tipo de cinema. Este convite e o tempo que dedico à composição trouxeram de novo o gosto que sempre tive pela imagem em movimento e uma enorme vontade de me dedicar à Sétima Arte, o que ultimamente tem vindo a acontecer com maior regularidade.” Este gosto e esta vontade são aspectos que tocam também Filipe Raposo, tal como Sassetti presença assídua na Cinemateca Portuguesa para este género de trabalhos. Na Casa das Artes, o piano de Raposo raiou o sublime, acrescentando emoção, sentimento, bom gosto e sentido de oportunidade aos vários quadros que iam passando na tela. Um espectáculo dentro do espectáculo, fazendo de “A Máscara de Ferro” e da música imersiva de Filipe Raposo um dos momentos mais altos de um ano cultural prestes a chegar ao fim.

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