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segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: Artistas Portugueses AIC 



EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: Artistas Portugueses AIC
Ana + Betânia, Carlos Enxuto, Heitor Figueiredo, João Carqueijeiro, Sofia Beça, Xana Monteiro, Yola Vale
XVI Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro 2023
Galeria Morgados da Pedricosa 
28 Out 2023 > 28 Jan 2024


A Cerâmica Artística tem, por estes dias, o seu epicentro em Aveiro. É lá que, num conjunto selecionado de espaços expositivos, o visitante pode apreciar o que de mais engenhoso, criativo e belo se abriga em cada uma destas peças, pequenos pedaços de barro feitos Arte pelas mãos do Homem. Entre a abstração e o figurado mais realista, as peças distribuem-se por géneros, motivos, formas e suportes os mais diversos, fonte de admiração e fascínio de todos os públicos, independentemente dos seus conhecimentos e interesses nestas matérias. A exposição de Artistas Portugueses AIC – Academia Internacional de Cerâmica, que pode ser vista na Galeria Morgados da Pedricosa até ao dia 28 de Janeiro, é disso um bom exemplo. A mostra apresenta um conjunto de trabalhos com assinatura de Ana + Betânia, Carlos Enxuto, Heitor Figueiredo, João Carqueijeiro, Sofia Beça, Xana Monteiro e Yola Vale, firmando a sua identidade de cada um dos criadores num espaço desafiante e exigente, na sua dupla dimensão: Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro e Galeria Morgados da Pedricosa.

“Será o Vazio algo a evitar ou será o vazio uma parte integrante do nosso caminho que nos leva a descobrir a profundidade da nossa existência enquanto seres.” Parecendo encerrar em si uma questão, a frase é de Carlos Enxuto e leva-nos ao encontro de uma peça enigmática, espécie de trilho interrompido por um vasto portão, espaço limite que determina um antes e um depois para aqueles que se dispuserem a franqueá-lo. Na mesma sala, Heitor Figueiredo conta-nos, em peças delicadas que parecem inspiradas num conto infantil, o mito da criação, “a história do princípio, quando não existia nenhum pássaro, nenhuma montanha. Apenas o céu. Apenas o mar. Não existia mais nada, nenhum som, ou movimento. Apenas o Coração-do-Céu, sozinho.” Numa sala contígua, Sofia Beça mostra-nos “Ilhas” (2022) e “És como as Ondas” (2023), duas peças simultaneamente delicadas e rudes, pelo modo sensível de trabalhar a matéria e pelas suas características de terra-rocha. Aqui, como escreve Helena Mendes Pereira, “o mar e os seus pontos flutuantes de vida humana são um moto de pensamento, de reflexão: não seremos todos ilhas, mergulhados que estamos nas nossas profundezas, à deriva, ainda que capazes de flutuação sem pressa.”

Xana Monteiro apresenta “Valsa Lenta”, instalação impactante que nos leva ao encontro dos obstáculos (pedras) que se atravessam no nosso caminho ao longo da vida. Ana + Betânia prestam um tributo sentido à beleza e complexidade dos nossos habitats naturais e ao poder regenerador da natureza face à agressão levada a cabo pelo Homem. De Yola Vale podemos ver “mare MEDITERRANEUM mortis”, uma peça que nos fala de deslocação, de separação, de migração e de travessia da rota marítima mais perigosa do mundo. Uma peça que representa “um mar revolto, um caminho sinuoso, um labirinto de subterfúgios, um apelo à consciência.” Deixo para o fim, propositadamente, a peça que mais me chamou à atenção neste espaço tão especial. “Floresta”, de João Carqueijeiro, é uma instalação que responde à reflexão do autor “sobre os efeitos devastadores do fogo: a desolação da paisagem, os tons de cinzento queimado, a dor da natureza e a dor humana… quando tudo se descontrola, desmorona e finalmente se extingue e se apaga.” Face a uma “floresta” de troncos temperados pelo fogo vivo, o visitante é convidado a deambular por entre os elementos, interiorizando a catástrofe e ponderando o dia seguinte. Genial!

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