EXPOSIÇÃO: “Escuridão Flamejante”,
de Gaëlle Rouard
Curadoria | Andreia Magalhães
Centro de Arte Oliva
07 Jul > 19 Nov 2023
No Centro de Arte Oliva, está patente ao público uma exposição absolutamente imperdível. Intitula-se “Escuridão Flamejante” e ocupa duas salas do piso superior, numa das quais se mostra um vasto conjunto de fotogramas, colecção da artista, e na outra “Darkness, Darkness, Burning Bright”, filme de 2022 processado manualmente. Um díptico-instalação que surge da conversão do seu maior projecto até à data e que resulta numa nova abordagem da sua obra. Começando pelos fotogramas, eles constituem uma faceta menos conhecida da produção artística de Gaëlle Rouard e surgem em exposição agrupados por géneros, das plantas aos insectos, das rochas aos répteis ou aos mamíferos. Realizadas ao longo dos últimos três anos, estas imagens são criadas a partir da exposição de objectos e elementos naturais à luz e emulsões químicas, sendo algumas posteriormente intervencionadas com pintura e colagem. O resultado é de uma extraordinária beleza, cada fotograma um objecto delicado e sensível que bebemos com o olhar e pelo qual nos apaixonamos.
Feito de vastos caminhos floridos, ramos frescos, bosques cheios de perfumes, vozes dos pássaros e sussurros do vento, “Darkness, Darkness, Burning Bright” tem para oferecer ao espectador uma paisagem nocturna e crepuscular, onde animais e vegetação emanam luzes iridescentes. Três anos de captação, processamento e edição foi o tempo necessário para a finalização do filme, a que se somaram nove meses para a criação do som. Cada plano do filme é cuidadosamente composto e resulta da combinação de imagens fixas com imagens em movimento, tendo sido já descrito como uma sucessão de quadros vivos onde os efeitos visuais, de acordo com as palavras de Maximilien Luc Proctor, “conferem uma luminosidade alienígena ao mundo natural”. Filmado em 16 mm e convertido posteriormente para vídeo, o filme divide-se em dois atos - “Prelude” e “Oraison” - e tem uma duração de trinta e nove minutos.
Cineasta e artista visual, Gaëlle Rouard tem vindo a realizar filmes desde 1991 e é uma autora reconhecida do cinema experimental europeu. A sua obra é marcada pela criação e exploração de vários métodos de processamento químico de película, criação de bandas sonoras e pelas suas performances ao vivo de projecção. “Darkness, Darkness, Burning Bright” é o seu último filme e estreou no Festival de Roterdão, tendo arrecadado o prémio do Istambul International Film Festival, o prémio da Competição Experimental do Curtas de Vila do Conde 2022 e o Best Sound Design do Ann Arbor Film Festival, em 2023. Curadora da exposição, Andreia Magalhães tem desenvolvido a sua atividade profissional nas áreas da gestão de coleções, programação e produção de exposições. Em Portugal, trabalhou no Museu da Faculdade de Belas Artes, no Museu Nacional de Soares dos Reis e no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Fora do país trabalhou, entre outros, no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Desde 2017 é directora artística do Centro de Arte Oliva.
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