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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

CONCERTO: Ricardo Ribeiro com Orquestra Filarmonia das Beiras



CONCERTO: Ricardo Ribeiro com Orquestra Filarmonia das Beiras
Direcção musical | Leandro Alves
Arranjos | João Martins
Ciclo de Fado 2023
Cineteatro Alba
25 Nov 2023 | sab | 21:30


Quatro anos depois de “Respeitosa Mente”, um álbum surgido em contraciclo com a sua vocação fadista, Ricardo Ribeiro está de regresso com “Terra Que Vale o Céu”, voltando a abraçar o género que o celebrizou e que faz dele um dos mais notáveis intérpretes da “canção nacional”. Quatro anos é também o tempo que medeia entre a sua anterior passagem por Albergaria-a-Velha e esta ocorrida na noite de sábado onde, no Cineteatro Alba, brilhou ao lado da Orquestra Filarmonia das Beiras, sob a direcção do maestro Leandro Alves, e de um trio de cordas onde pontificaram Carlos Manuel Proença (viola), Daniel Pinto (viola baixo) e Luís Guerreiro (guitarra portuguesa). Uma noite de puro deleite para um público que praticamente esgotou a sala, de regresso às raízes mais profundas da tradição fadista, de reencontro com uma voz e um canto inconfundíveis. Uma noite de “fado antigo que sabe a novo, mas ao mesmo tempo um fado novo que sabe a antigo”, citando Rui Vieira Nery e as palavras que escreveu a propósito do mais recente trabalho do artista.

Com a consciência sábia do passado e os olhos abertos para o presente e para o futuro, Ricardo Ribeiro teve para oferecer uma parte do seu mundo interior, inspirado pelo sul, cingindo num abraço o Mediterrâneo e o Oriente. Como quem escava a terra do próprio peito, o fadista foi ao encontro da tradição, trazendo à superfície fados como o “Acácio”, o “Azenha” ou o “Franklim”, num estilo interpretativo onde cabe uma boa dose de novidade. Pedro Homem de Melo, Rosa Lobato Faria e Ary dos Santos ofereceram, a par de Amélia Muge, Paulo de Carvalho, Carminho, Tozé Brito e outros, as palavras que depois nos seriam devolvidas em músicas da tradição fadista, mas também de enormes compositores como João Paulo Esteves da Silva ou Rão Kyao. Do próprio Ricardo Ribeiro pudemos escutar algumas composições, nomeadamente “Vira-Voltas” e “Tronco e Raíz”, este último um extraordinário pedaço de intimidade, com o pequenino Francisco ao colo, a harmónica de Luís Trigo a vincar o lirismo das palavras e da música, num ponto final no alinhamento do concerto absolutamente inesquecível.

No saboroso desfiar das páginas íntimas que Ricardo Ribeiro escolheu partilhar com o público, começámos por escutar “Antes Só”, um muito saudado encontro com o enorme Artur Ribeiro. “Soneto de Mal Amar” permitiu visitar o álbum “Hoje é Assim, Amanhã Não Sei” (2016), mas não ficou por aqui o exercício de recordar este trabalho, já que dele também se escutou “Nos Dias de Hoje” e, no primeiro de dois encores, o muito divertido “Fadinho Alentejano”. Do álbum “Largo da Memória” (2013) ouviu-se “Entrega” e “Porta do Coração”, álbum de 2010, emprestou ao concerto “Moreninha da Travessa”, o seu tema mais conhecido. Para além de “Antes Só”, Ricardo Ribeiro deu a conhecer sete temas do seu novo disco, dos quais destacaria, pela beleza das palavras e pelas sonoridades meridionais, “Terras Dum Mar Interior” e “Tirai os Olhos de Mim”, este último musicando um poema de Gil Vicente. O concerto viria a terminar em apoteose, numa segunda vinda ao palco de Ricardo Ribeiro, com um muito reclamado “Mondadeiras”, tema que firmou a união do fado e do cante, do corpo e da alma, do norte e do sul, do sol e do sal. Inesquecível!

[Foto: Cineteatro Alba | https://www.facebook.com/CineteatroAlba]

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