CERTAME: Encontros da Imagem – Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais 2023
Braga, Barcelos, Guimarães e Porto (vários locais)
15 Set > 28 Out 2023
“Pensarmos o presente para podermos, em conjunto, imaginar e construir o futuro” serve de mote à 33.ª edição dos Encontros da Imagem de Braga. Neste “Ensaio para O Futuro”, avulta a vontade de explorar os desafios que continuam a ser vividos e as conversas que ainda são necessárias: “a representatividade e a inclusão, a sustentabilidade ambiental, a política do quotidiano e os movimentos sociais como forças poderosas de mudança”. Num certo sentido, esta é uma edição que surge como um prolongamento das anteriores e que volta a realçar a necessidade urgente de olhar, ver e reparar. É disso que nos falam as cinquenta e duas propostas de autores das mais variadas geografias, espalhadas por vinte e quatro espaços das cidades de Braga, Barcelos, Guimarães e Porto. Reflexo da tomada de consciência dos sinais de fragilidade que as democracias revelam e do espaço que os extremismos vêm conquistando no frenesim do mundo virtual e da vida real, as múltiplas abordagens convergem num mesmo ponto: Devemos parar para pensar em novas formas de organização, de modos de vida e de criação.
O Mosteiro de Tibães acolhe os trabalhos de quatro artistas concorrentes ao prémio Discovery Awards 2023. Trata-se de quatro propostas muito diferentes entre si, das quais destacaria “Transcendence”, de Cinzia Romanin, mediante a qual a artista reflecte sobre a forma como as nossas escolhas diárias estão a definir o futuro do planeta. Na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva mostram-se os trabalhos de sete artistas, definidores de uma certa ideia de marginalização que vai afastando aos poucos as pessoas dos seus espaços naturais, forçando a sua dispersão e pondo em risco o seu modo de vida, as suas culturas e tradições. Particularmente marcante é o trabalho “Sanitá” de Ciro Battiloro, que lança um olhar sobre o quotidiano de Rione Sanità, um bairro complexo do coração de Nápoles e que é um dos lugares mais densamente povoados da Europa. “Animas” de Andrea Graziosi e “We used to live in the Tundra” de Natalya Saprunova são, igualmente, trabalhos a merecer a maior atenção.
A Galeria do Paço - U. Minho volta a ser um dos pontos fulcrais no mapa dos Encontros, concentrando os trabalhos de oito artistas e, ainda, os prémios Aperture PhotoBook Awards 2022, para além da projecção dos trabalhos dos finalistas do prémio Discovery Awards 2023. “Malign Influences”, do mexicano Diego Moreno, destaca-se pela mensagem e pela estética, ao encontro do arquivo fotográfico pessoal do artista e das novas realidades inventadas a partir da sua obsessão e fascínio pelo anómalo. De tal forma intensa, a exposição como que ofusca as restantes, mas importa não perder de vista “People of Clay” de Akshay Mahajan, “ctrl + r” de Toma Gerzha e “Everything goes dark a little further down” de Matthieu Croizier. Imperdíveis são as exposições patentes no Museu Nogueira da Silva, onde expõem Ligia Popławska, Lucas Foglia, Chloé Milos Azzopardi e Gabriele Cecconi, este último com o mais irónico olhar destes Encontros. No Museu D. Diogo de Sousa são cinco as exposições, com destaque para “Khamsa khamsa khamsa” de Julia Gat e “Fever dream” de Victoria Jung.
A variedade de propostas que se oferecem nos restantes espaços é enorme, importando evidenciar algumas delas. “Before it’s gone” de M’hammed Kilito e “Mother of Water” de Hahn & Hartung são duas exposições que, por si só, obrigam a incluir o espaço gnration na rota dos Encontros deste ano. Atenção especial para “Submerged portraits”, de Gideon Mendel, conjunto de dezasseis imagens que ocupam uma parte da Avenida Central. No Porto, na galeria “Salut au Monde!”, há para ver “De la mer à la terre”, de Cédrine Scheidig, com curadoria de Pablo Berástegui. Regressando a Braga, as últimas linhas vão para “Não digas à mãe”, de Délio Jasse e com curadoria de Helena Mendes Pereira. A exposição toma conta do espaço da Zet gallery e nela o artista angolano parte das possibilidades da fotografia e de outras técnicas de reprodução e sobreposição de imagens, desafiando a possibilidade de reescrita da verdadeira história do colonialismo português em África. A forma como as histórias vão sendo contadas, a natureza e diversidade de suportes e o cuidado posto no próprio trajecto da exposição e na forma como os materiais se distribuem, abrem novas perspectivas e ampliam as possibilidades de leitura, das ternas memórias à sua indefinição, que o passar do tempo acentua. Sem matéria para dúvidas, o grande momento desta edição dos Encontros da Imagem de Braga.
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