EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Animas”,
de Andrea Graziosi
Encontros da Imagem de Braga 2023
Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva
16 Set > 28 Out 2023
No centro da Sardenha, em diferentes aldeias do território da Barbagia, podemos encontrar ainda hoje estranhas e arcaicas tradições fortemente enraizadas no quotidiano das populações. Os cultos ancestrais evocam uma relação intensa e visceral que o homem mantém com a natureza e carregam um valor místico, espiritual e sagrado, com um propósito catártico e libertador. Aqueles que tiveram a oportunidade de assistir a “Selvagem”, dos criadores Marco Martins, Patrícia Portela e Renzo Barsotti, extraordinária peça de teatro que subiu ao palco do Teatro do Campo Alegre em Abril do ano passado, sabem bem o que está aqui em causa. Tal como na peça, na qual oito não-actores, cinco sardos e três transmontanos (dois de Podence e um de Baçal), nos conduziam ao encontro de um mundo rural ritmado pelas estações do ano, pelo ciclo das sementeiras e das colheitas e pelos longos períodos de inação durante o Inverno, também “Animas” nos dá a ver a relação de proximidade entre o homem e o animal.
Atraído por um modo de vida onde a solidariedade e a cumplicidade são pilares de uma vida em sociedade na qual cada um joga a sua própria sobrevivência, Andrea Graziosi vem desenvolvendo, há mais de oito anos, um trabalho de pesquisa e produção ao qual resolveu chamar “Animas”. O título procede de uma expressão usada pelos habitantes desta região da Sardenha para definir algo que não tem tempo nem corpo, de um tempo perturbador, selvagem, que é especificamente não humano, e possibilita viver uma experiência. Nas imagens avultam a estridência da música e os ritmos frenéticos, os trajes garridos, os gestos provocadores e a bizarria das máscaras, elementos pertencentes a uma realidade que soa estranha e que, pela lente do artista, nos falam de “um tempo que já não nos pertence”. É como se Graziosi nos fizesse ver que “mascarar-se é um destino, o vínculo a uma relação perturbadora entre o ser-animal e a divindade”, ao mesmo tempo que “usar uma máscara significa metamorfosear-se sob a forma de outra entidade”. Fica assim claro que o efeito ameaçador e perturbador resultante destas máscaras não tem a função de assustar, antes de criar uma relação com o outro.
Andrea Graziosi [https://www.andreagraziosi.com/] é um fotógrafo italiano com base em Marselha. Nascido em 1977, cresceu em Loreto, uma vila na zona central da Itália, um dos locais italianos espirituais e de peregrinação mais visitados. Entre meados dos anos 90 e 2004 trouxe a sua investigação e experiências artísticas para a cultura underground, envolvendo-se com diversos projectos de colectivos dedicados à difusão de artes experimentais. Desenvolve a sua investigação focando-se nas correlações que os seres humanos mantêm com outras formas de vida, evocando e trabalhando em noções ontológicas relacionadas com os conceitos de transformação animal, dimensões paralelas, fracturas e estranheza. Em 2015, publicou o seu primeiro livro, “Nunc Stans”, com as Éditions André Frère e trabalha actualmente em três novos projectos editoriais. “Animas”, o projecto que pode ser visto em parte na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, tem o final previsto para 2024, sendo expectável que possa ser mostrado na íntegra na próxima edição dos Encontros.
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