EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ESCULTURA: “Alexander Calder, Uma Linha de Equilíbrio”
Curadoria | Philippe Vergne
Casa e Parque de Serralves
22 Jun 2023 > 19 Mai 2024
No Museu de Arte Contemporânea de Serralves está patente a exposição “Alexander Calder, Uma Linha de Equilibrio”, dedicada a um dos mais influentes escultores do século XX. Distribuídas entre o espaço da Casa de Serralves e o Parque, as obras ilustram a visão singular do artista ao longo das suas cinco décadas de envolvimento com a forma abstracta. A exposição apresenta algumas das peças mais importantes do escultor, criadas durante a sua estadia em Paris, feitas em arame e produzidas ao mesmo tempo que as figuras do famoso “Circo Calder”, bem como um importante grupo de móbiles da década de 1940. No ano em que se comemora o centenário do Parque de Serralves, a mostra inclui ainda quatro esculturas monumentais de Calder, dispostas nos jardins em vários locais. Fazendo uso da linguagem da abstracção, Alexander Calder deixou-se fascinar, ao longo da sua carreira, pelo potencial cinético da arte e captou o movimento através de uma série de estruturas que se apresentavam como alternativas radicais às noções tradicionais de escultura da época e que tiveram um impacto profundo na história da arte do século XX. “Uma Linha de Equilíbrio” revela o desejo do artista de criar uma arte que ressoasse com a vida, através de um envolvimento constante com a força da gravidade, a circulação do ar e o jogo do acaso.
Alexander Calder começou a sua carreira como pintor e rapidamente desenvolveu uma paixão pelos guaches, aprofundando esta técnica nos anos 1930, enquanto vivia em Paris. Preferia guache porque secava rapidamente e tinha uma pronunciada opacidade. A facilidade com que podia trabalhar com este meio atraiu-o, permitindo-lhe combinar o seu gosto pelo desenho e o seu olho para a cor. Os seus guaches revelam um domínio da linha, um equilíbrio de composição e uma preferência pelas cores primárias. Nesta exposição, as obras “Composition”, “White Spiral”, “Pointes” e “Cercles”, denotam a mesma angularidade e cinetismo que iremos encontrar nas suas esculturas. Na mesma sala, o visitante pode observar a obra “Yellow Panel”, pintura em relevo que dá continuidade à investigação do artista acerca da integração pintura / escultura, cinética e do enquadramento de formas tridimensionais num quadro espacial. No chão, somos confrontados com uma peça singular, “Requin et Baleine”, duas peças de diferentes tipos de formas de madeira, um conjunto frágil e ténue que ilustra a atenção que Calder dispensa ao movimento e testemunha o gosto pelo primitivismo, reavivado aqui pelos seus contactos com o surrealismo.
A exposição é pontuada por obras da série “Constelações”, iniciada em 1943, cujo título reflete a influência de Marcel Duchamp e do crítico James Johnson Sweeney. Alexander Calder produziu um grupo de móbiles suspensos e móbiles em pé (stabiles) em madeira e arame que, décadas mais tarde, em 1971, relacionou com as “Constelaciones” de Joan Miró, uma série de vinte e três pinturas a guache e têmpera realizadas entre 1940 e 1941, que Calder viu em 1944 quando foram expostas em Nova Iorque. Calder concebeu esta série, expandindo o seu interesse pela física do mundo natural. As “Constelações”, criadas durante a escassez de metal em tempo de guerra, eram feitas através da anexação de formas de madeira esculpidas à mão, algumas lisas, outras pintadas, às extremidades de fios de aço rígidos. Calder criou, aproximadamente, vinte e nove constelações nesta altura, cujas estruturas variam consideravelmente. O átrio do piso inferior é dominado pela presença de “Les Boucliers”, 1944. O visitante pode passear em torno da obra, composta por uma constelação de grandes elementos de chapa metálica preta, de tamanho variável e formas ligeiramente ameaçadoras, na sua maioria rombóides alongados, que têm o potencial de se sobreporem uns aos outros à medida que giram a partir de um complexo sistema de hastes interligadas, equilibradas num tripé.
Na sala hexagonal, é exposto um grupo de três delicados móbiles — “Fish Bones”, “Mobile, 1949” e “Mobile, 1955” —, confrontando o visitante com o seu movimento e a visão para o espaço exterior. A exposição abre-se para o Parque de Serralves, onde estão patentes quatro importantes obras de exterior. Calder dedicou-se também à realização deste tipo de esculturas em grande escala, em chapa de aço aparafusada. Na década de 1950, o reconhecimento internacional de Calder aumentou significativamente, permitindo-lhe expandir os seus estúdios nos Estados Unidos e em França. Como resultado, foi capaz de criar os seus móbiles e stabiles numa escala monumental e que hoje adornam praças públicas em cidades de todo o mundo. No Parque de Serralves, podemos ver três stabiles importantes: “Les Trois Ailes”, “Guillotine pour Huit” e “Nageoire”, bem como “Horizontal”, um monumental móbil assente no chão. Este último é constituído por uma secção de suporte fixa com uma estrutura móvel no topo. Cinco lâminas rebitadas são movidas por correntes de ar, conferindo à peça a componente lúdica e otimista que é tão essencial à arte de Calder, ao mesmo tempo que produz um contraste espontâneo entre a solidez estética industrial da base e a variabilidade da parte superior.
[Texto composto a partir do Roteiro da Exposição]
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