EXPOSIÇÃO DE ESCULTURA, DESENHO E GRAVURA: “Et sic in infinitum”,
de José Pedro Croft
Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva
26 Jan > 28 Mai 2023
A programação de 2023 da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva abre com “Et sic in infinitum”, de José Pedro Croft. Comissariada por Sérgio Mah, a exposição é composta por duas dezenas de trabalhos maioritariamente produzidos nos dois últimos anos, mostrando de que forma o artista explora a complexidade e as múltiplas potencialidades das relações entre escultura, desenho e gravura, técnicas que utiliza para nos oferecer um emocionante exercício de liberdade estética e interpretativa. Cada uma das obras revela elementos de círculos ou de circunferências, em planos mais abrangentes ou parcelares, submetidos a variações cromáticas, a cortes, descentramentos e sobreposições, de modo a configurar formas que se desalinham e se repartem, procurando desencontros, desvios profícuos, articulando frequentemente as suas qualidades bidimensionais e tridimensionais.
O título “Et sic in infinitum” é uma citação da frase que o físico e cosmologista Robert Fludd inscreveu em cada um dos lados de um desenho datado de 1624 e que é reconhecido como uma das primeiras representações da criação do universo. O desenho dá a ver um quadrado negro imperfeito, a imagem do pré-universo, do nada, do vazio negro e sem forma, anterior ao evento da criação. O quadrado negro de Robert Fludd ilustra um enigma fundacional, mas em simultâneo assinala os limites da representação, ao anotar em cada margem do quadrado a frase “Et sic in infinitum” [“E assim por diante até ao infinito”]. Deste modo, partindo de uma mesma forma básica e arquetípica, José Pedro Croft explora “um imenso campo de possibilidades estéticas e perceptivas, através de uma sucessão de permutações que indaga a volatilidade e a impermanência das formas, manifestando a sua inclinação por modos mais abertos e múltiplos de pensar, ver e criar, e comprometendo-nos com as oportunidades que derivam da experimentação e da variação criativa, entendidas também como critérios fundamentais na relação multiforme com o mundo e a arte do nosso tempo”.
“Na produção artística de José Pedro Croft das últimas duas décadas é notória a estreita cumplicidade entre a escultura, o desenho e a gravura. […] Através destas três práticas, o artista tem produzido conglomerados de obras em que explora inúmeras variações a partir de formas básicas e arquetípicas, submetendo-as a experiências de derivação e reconversão que inevitavelmente debilitam os seus princípios estáveis e lógicos e testam a nossa perceptibilidade relativamente ao que nos rodeia e nos habita enquanto seres impregnados de visualidade. […] É igualmente manifesto o interesse de José Pedro Croft pelos aspectos generativos da criação artística, ou seja, pelas potencialidades imanentes a cada meio, material ou forma, enquanto faculdades que contribuem para a singularidade de cada obra, mas também como remissões para a complexidade de que se reveste a experiência do mundo e a vasteza de coisas e dinâmicas espaciais e temporais que o constituem”, escreve Sérgio Mah, no catálogo da exposição.
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