CONCERTO: “Popular Jaguar”
Tó Trips
Convidados | António Quintino (contrabaixo), Helena Espvall (violoncelo)
Auditório de Espinho – Academia
12 Mar 2023 | dom | 18:00
Espinho, tarde de domingo. Auditório da Academia de Música repleto de um público ansioso por escutar Tó Trips e o novíssimo “Popular Jaguar”, o seu terceiro trabalho em nome próprio, aqui em estreia absoluta. Na plateia, muita gente que habitualmente não se vê por estas bandas. São os indefectíveis, entre amigos e admiradores do artista, que não quiseram perder a oportunidade de saborear em primeiríssima mão as novidades. De “Popular Jaguar” sabe-se, pelo que se foi lendo, que corresponde a um “arrumar a casa” numa era pós-Dead Comb e pós-pandemia. Marca o fim de um ciclo e assume-se em forma de disco, mas também de livro, “Ínfimas Coisas”, feito de memórias, fotografias, textos, frases, histórias de viagem. Um disco (e um livro) com um cunho marcadamente autobiográfico, onde se adivinha um virar de página. Um recomeço. Expectantes, de olhos espetados na penumbra do palco, também nós sentimos que somos parte da história.
Uma bateria de guitarras alinhadas sobre o lado esquerdo, um contrabaixo e um violoncelo pousados a meio. É com estes dois instrumentos que António Quintino e Helena Espvall mostrarão daqui a pouco a sua enorme classe e virtuosismo, justificando a chamada em momento tão especial. Por agora, porém, é em Tó Trips que nos concentramos e nos acordes de “Península dos Índios”, tema de abertura deste concerto. Fatalmente, somos arrebatados por uma música que é sempre mão que se oferece, abraço que aquece, porto seguro que nos acolhe e onde descansamos a cada primeiro dia do resto das nossas vidas. Com um sorriso viajamos até lugares onde fomos felizes, embalados pelos sons de um Mediterrâneo aqui tão perto ou de uma Ásia longínqua, da tensão do rock, do ondulado da morna, da alma do fado. No nosso meio está o Pedro [Gonçalves]. Também ele sorri!
Não vou escalpelizar cada um dos catorze temas que pudemos escutar, quatro dos quais repescados de outros trabalhos, nomeadamente para dança e cinema. Mas importa dizer que “Península dos Índios” colocou de início a fasquia num patamar altíssimo, aí se mantendo ao longo de todo o concerto. Com os seus instrumentos, António Quintino e Helena Espvall levam a que os horizontes sonoros de “Popular Jaguar” se tornem ainda mais vastos, a harmonia e o ritmo condensados em leveza e liberdade. “Ginga”, “L.A. Chet”, “Ínfimas Coisas”, "O Deus do Vento" ou “O processo de Uma Aparição”, tema que fechou o concerto, são partes de um todo marcado pela inspiração, pelo génio criativo e pela mestria interpretativa de um enorme artista. “Popular Jaguar” é um trabalho sem falhas de um autor de excepção. Um músico de culto que seguiremos incondicionalmente, seja qual for o caminho de ora em diante.
[Foto: Auditório de Espinho | https://www.facebook.com/auditoriodeespinhoacademia]
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