EXPOSIÇÃO: “Faraós Superstars”
Curadoria | Frédéric Mougenot, João Carvalho Dias
Fundação Calouste Gulbenkian – Galeria Principal
25 Nov > 06 Mar 2023
Embora tenha chegado ao fim, não dispenso este apontamento sobre a exposição “Faraós Superstars”, aproveitando para recordar uma mostra impactante e que chamou à Gulbenkian, ao longo de pouco mais de três meses, muitos milhares de visitantes (nos últimos dias os horários foram mesmo alargados para puderem corresponder ao interesse daqueles que pretendiam ainda ver a exposição). Centrada na figura do faraó e do lugar que este tem ocupado no nosso imaginário colectivo ao longo de cinco milénios, a mostra reuniu cerca de 250 obras de colecções tão importantes como as do British Museum, do Museu do Louvre, do Museo Egizio de Turim, do Ashmolean Museum de Oxford, do Musée d’Orsay, do Mucem de Marselha, da Biblioteca Nacional de Portugal, do Museu da Farmácia, entre outras, dando a ver antiguidades egípcias, iluminuras medievais, pinturas clássicas, documentos, obras históricas, mas também vídeos, música pop, bens de consumo e publicidade do nosso tempo.
Um tão variado conjunto de obras convida a uma reflexão sobre a popularidade destas personagens históricas, e por vezes míticas.
Porque motivo alguns faraós são hoje autênticas celebridades, enquanto a memória de outros se perdeu na noite dos tempos? Khufu (Quéops, em grego), Nefertiti, Tutankhamon, Ramsés e Cleópatra continuam a ser nomes reconhecidos milhares de anos após a sua morte, mas poucos saberão quem foram Teti, Senuseret ou Nectanebo. “Faraós Superstars” procura responder à questão evocando, por exemplo, os fundadores do Império Novo, o rei Ahmés, a sua esposa Ahmés-Nefertari e o seu filho e sucessor Amen-hotep I, a quem é devida a reunificação do reino após mais de um século de divisão e a construção e restauro de numerosos monumentos. Mas encontramos aqui, também, a evocação dos “reis malditos”, a mulher-faraó Hatchepsut que criou um precedente perigoso para a transmissão masculina do poder, Akhenaton e sua esposa Nefertiti que tentaram uma reforma radical da religião e do poder, e também dos seus sucessores imediatos, nomeadamente Tutankhamon.
A cristianização do Egipto, no início da nossa era, assinalou o fim da civilização faraónica, cuja histórica mais recuada foi lentamente desaparecendo. A partir de 1822, porém, os egiptólogos começaram a compreender o significado dos hieróglifos e, progressivamente, os faraós foram resgatados do esquecimento. Os meios de comunicação e os museus, em plena ascensão no século XX, elevaram-nos ao estatuto de vedetas internacionais. Ao mesmo tempo, as suas imagens e os seus nomes serviram de base a definições identitárias, acabando por serem promovidos a símbolos patrióticos, impulsionados pelos movimentos nacionalistas que precipitariam a saída do Egipto do domínio britânico na década de 1920. As revoluções tecnológicas fizeram dos faraós ícones pop mundializados, simbolizando todos os aspectos que alimentam o nosso fascínio pelo Egipto antigo: Longevidade, personalização do poder, busca da imortalidade, materiais preciosos, referências bíblicas e mistérios. Os seus supostos vícios e virtudes inspiraram os escritores, enquanto a sua fama atraiu o público e persuadiu os consumidores.
[Texto compilado a partir dos materiais que acompanham esta exposição e que podem ser consultados em https://gulbenkian.pt/museu/agenda/faraos-superstars/]
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