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segunda-feira, 13 de março de 2023

CONCERTO: "Fado do Meu Cante" | Luís Trigacheiro



CONCERTO: “Fado do Meu Cante”
Luís Trigacheiro
Cineteatro António Lamoso, Santa Maria da Feira
11 Mar 2023 | sab | 21:30


“Fado do Meu Cante” saiu para a estrada em Maio do ano passado e tem vindo, desde então, a mostrar-se um pouco por todo o lado com grande sucesso. Na noite do passado sábado, Luís Trigacheiro esteve no Cine-Teatro António Lamoso, onde foi recebido por uma sala a abarrotar de um público carinhoso e acolhedor, que não regateou nas palmas com que brindou o cantor ao longo de todo o concerto. Trigacheiro chegou mesmo a confessar-se “sem jeito” face ao entusiasmo do público, correspondendo com o que de melhor tem: o seu cante e o seu fado. Distintos nas suas origens e na forma como se exprimem, o fado e o cante encontram na voz do artista um meio de se fundirem, de se darem a escutar envoltos num mesmo sentimento, quiçá indissociável desta alma de “ser português”, deste estado de espírito que tudo impregna e contamina. Mas também pela emoção que Luís Trigacheiro coloca em cada uma das músicas, carregando-as de inquietação, comoção e despojamento.

O início do concerto foi marcado pelo insólito. Depois de cantar “Amanhã é Melhor”, Luís Trigacheiro despediu-se com um “obrigado Santa Maria da Feira, até à próxima”, abandonando o palco com os restantes músicos, Francisco Pereira na guitarra portuguesa, Bernardo Viana na viola de fado, Diogo Alexis no baixo eléctrico e João Ferreira na percussão. Voltaria dois minutos depois, pronto para fazer do concerto um longo encore ou do “encore” um concerto que acabaria por se revelar demasiado curto, expondo as fragilidades de um repertório limitado. Este “fait divers” teve o condão de reforçar a empatia com o público e “Meu Nome É Saudade” foi aclamado com entusiasmo. Seguiu-se “Oceano”, uma canção de Djavan, com a qual o artista prestou homenagem a uma das suas maiores influências musicais. Todavia, entre temas de raiz popular e composições de autor, a verdade é que o concerto parecia não descolar de uma certa monotonia, que nem as palmas a compasso que acompanharam “Eu Pedi-Te a Mão Na Escola” conseguiram quebrar.

“São Saias, Senhor, São Saias” foi um ponto de viragem no concerto. Luís Trigacheiro enveredou por temas mais “musculados”, dando finalmente a escutar o calor e envolvência de uma voz belíssima. A “ousadia” de abraçar “O Amor a Portugal” veio mostrar que a interpretação desta música de Ennio Morricone não é exclusiva de Dulce Pontes. A par da voz, as palavras alcançavam um maior significado, o fado “castiço, mestiço”, misturado com o cante, “do meu povo trago pranto / No meu canto a Mouraria”. Até ao fim ainda foi possível viver dois momentos inéditos - uns parabéns cantados ao “manager” David Rodrigues, que só faz anos em Abril, e o “Nobre Vagabundo” da Daniela Mercury e “A Paixão” de Rui Veloso a ocuparem um dos dois momentos do “encore” -, e escutar os últimos temas, “Meu Fado Meu”, “O Meu Alentejo”, sobre um poema lindíssimo de Florbela Espanca, “Trocas-Me a Mim” e o inevitável “Mondadeiras” (quem não se lembra desta interpretação nas provas cegas do Programa The Voice Portugal, considerada uma das melhores do mundo em 2021?). Um concerto simpático, de um jovem cantor fadado para uma bem sucedida carreira.

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