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segunda-feira, 27 de março de 2023

CONCERTO: Dino d'Santiago



CONCERTO: Dino d’Santiago
Cineteatro Alba
25 Mar 2023 | sab | 21:30


Defensor acérrimo dos princípios da liberdade, igualdade e justiça, Dino d’Santiago é uma referência maior para muitos portugueses que veem nele um verdadeiro farol na luta contra o preconceito, o racismo e a xenofobia. O reconhecimento vem de todos os sectores da sociedade que pugnam pelos valores da democracia e o jornal Expresso acaba de juntar o nome do artista à restrita lista dos “100 portugueses mais influentes dos últimos e dos próximos 50 anos”, ao lado de Mário Soares ou Inês Laíns, José Saramago ou Catarina Vasconcelos, Maria João Pires ou Tiago Guedes. Pelo exemplo de coragem e pelo que representa naquilo que defende, Dino d’Santiago será sempre alguém merecedor de todo o tempo que lhe possamos dispensar. Mas porque a sua arte é a música e nela coloca toda a sua intencionalidade, o caminho só pode ser o de juntarmos a nossa à sua enorme energia. E eis-nos a caminho de Albergaria-a-Velha em noite de chuva miudinha, para um momento imperdível que, sabemos de antemão, será profundamente inspirador.

Em grande, as expectativas não sairão goradas. Podemos sempre dizer que o som estava demasiado alto para uma sala pequena, que as luzes não pararam de ferir os olhos dos espectadores ou que é uma “batota” a música de fundo e os coros serem gravados. Mas o que é isso quando, num arrepio, escutamos: “Eu choro quando vejo a dimensão do teu sacrifício / O ofício de ser perfeita que não passa de um suplício / Se não fosses tão forte estarias acamada num hospício / Oxi en kre sabi kuze kie ser Mudjer / Ninguém quer saber o que insinuas ou porque amas / És só um objeto, não queremos saber das tuas luas / Mulheres só valem nuas dizem as nossas mentes turvas / Podes mostrar mais, nu ta odja sô bu kurvas.” São os versos de “Badia”, tema de abertura do seu mais recente álbum de estúdio, escutadas sensivelmente a meio do espectáculo, a coroar palavras igualmente vivas e sentidas num poema de Carlota de Barros: “ (…) Eis a mulheres... / estão aí todas / somos nós... / altivas... orgulhosas... frementes de amor... / tão confiantes... sorriso nos olhos / se amadas... / respeitadas... livres... libertadas / Aí estão / resistentes... firmes... empenhadas... lutadoras.”

“Quando cheguei, não havia galhos pra pousar as minhas penas mamã!” Foi com um voo longo, em si mesmo uma proposta de viagem, que teve início o concerto. Uma viagem que privilegiou “Badiu”, mas que soube harmonizar-se com os dois trabalhos anteriores, “Kriola” e “Mundu Nôbu”, através de um alinhamento adaptado na perfeição a um ritmo “non stop”. “Voei de Mim”, “Raboita Sta. Catarina” e “Sofia” foram exemplos de união numa música que não deixa ninguém indiferente e que levou a plateia (e o balcão) do Cineteatro Alba ao rubro. Veio depois “Nôs Funaná” e a certeza de que isto anda tudo ligado, “Branku ku Prètu, 1 Gerason di Oru”. “Lá Fora” e “Esquinas” tocaram pela força das palavras e “Roda”, “Nova Lisboa” e “Txuputi” voltaram a “sobrevoar” toda a discografia de Dino d’Santiago. Os temas fortes do concerto foram “dedicados a todas as mulheres, que mesmo vivendo num mundo extremamente machista, conseguem ser sempre amor maior”. “Tudo Certo” foi palavra de esperança a fechar o alinhamento e “Mundu Nôbu” preencheu uma parte do “encore”. A outra parte viu a muito jovem Laura Fontoura em palco a cantar o poema “Eu Sei…”, imortalizado na voz de Sara Tavares. “Se eu voar sem saber onde vou / Se eu andar sem conhecer quem sou / Se eu falar e a voz soar com a manhã / Eu sei...”. A viagem prossegue (a luta continua)!

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