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segunda-feira, 25 de julho de 2022

LUGARES: Espaço Armanda Passos | Museu do Douro


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LUGARES: Espaço Armanda Passos
Museu do Douro
Rua Marquês de Pombal, Peso da Régua
Horário | De Março a Outubro, das 10h00 às 18h00; de Novembro a Fevereiro, das 1h:00 às 17h30. Aberto diariamente
Ingressos | Bilhete individual 6,00 €


“Estes peixes que respiram ar, estes golfinhos sorridentes, estes lagartos sem veneno, estes dragões sem fogo nas goelas, em suma, este bestiário que não teria podido sobreviver num mundo violento e alucinado de Bosch veio encontrar no planeta de Armanda Passos uma nova idade de ouro.”
(José Saramago, 2004)

Após um largo período de encerramento por imposição de mais uma vaga da pandemia de COVID-19, o Museu do Douro reabriu as suas portas ao público em Maio do ano passado, trazendo a grande novidade de uma nova ala expositiva permanente, o Espaço Armanda Passos. Dedicado à artista plástica nascida em Peso da Régua e falecida no Porto, em Outubro de 2021, este espaço amplia o circuito de visita do Museu do Douro, dando a possibilidade ao visitante de fazer um percurso pela diversidade de obras e diferentes técnicas usadas pela artista e ficar a conhecer melhor a sua arte. Composta por oitenta e três obras que a Armanda Passos doou ao Museu da sua terra, entre desenhos a tinta-da-china, guaches, óleos, gravuras e serigrafias, a exposição tem a mulher configurada como eixo principal, culminando todo um trajecto de celebração da Mulher duriense ao longo de quase meio século de carreira artística.

Caracterizada como Neo-Figurativa, a obra da artista vive em torno de personagens que se apresentam planas, definidas por um traço bem delineado e vestidas de cores fortes que as impõem ante o nosso olhar. Povoados por figuras humanas e animais que parecem coabitar harmoniosamente, os universos abordados representam, de forma simbiótica, a dureza do quotidiano e a vontade de sonhar. Bidimensionais, os trabalhos rejeitam qualquer noção de escala ou proporção e as cores, sejam elas em mancha ou nos padrões, são aplicadas de forma rigorosa, trazendo uma espécie de organização conjunta às obras. O uso do dourado é comum em todas elas, seja em pequenos detalhes ou em elementos de destaque – há um viajar até civilizações antigas, até às obras de Gustav Klimt, mas também uma certa ideia de um futuro imagético.

Aparentemente simples, as obras pedem que nelas repousemos demoradamente o olhar, deixando-nos pacificar ou inquietar com as narrativas que cada uma tem o poder de suscitar. As várias figuras fazem-nos pensar em tempos longínquos, como que mitológicos, ao mesmo tempo que parecem anunciar um futuro. A ausência de títulos nas obras concorre para que nos deixemos levar por um mundo de possibilidades, sem nunca nos forçar uma narrativa ou detalhes específicos do que estamos a ver. O mundo de cada desenho apresentado é um só, embora haja um fio condutor a relacioná-lo com o da obra anterior e com o da seguinte. É como se as personagens se repetissem, ainda que valendo por si só, abrindo espaço à construção de uma história global. Visitar o Espaço Armanda Passos é penetrar num mundo de inquietação e fascínio, que em sobressalto percorremos e em cujo âmago nos apaziguamos. Uma visita indispensável.

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