CONCERTO: “A Mestria do Barroco”,
William Christie (cravo) e Théotime Langlois de Swarte (violino)
48º FIME – Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório de Espinho – Academia
17 Jul 2022 | dom | 18:00
O Auditório de Espinho foi, pelo breve tempo de pouco mais de uma hora, um cantinho do paraíso. Delicadeza, sensibilidade e poesia marcaram de forma indelével um concerto onde o cravista Wiliam Christie e o violinista Théotime Langlois de Swarte mostraram todo o seu virtuosismo, emissários que foram de uma música celestial, reverencialmente escutada como quem escuta a voz de Deus. Combinando graça, subtileza e harmonia, os dois instrumentistas deram provas de uma enorme cumplicidade, unindo esforços em torno de um conjunto de peças originais de Jean-Marie Leclair, lendário violinista que marcou, com o seu Stradivarius negro de 1721, o barroco francês da primeira metade do século XVIII. O programa associou a Leclair um de seus contemporâneos, Jean-Baptiste Senaillé, retirando-o do esquecimento e fazendo de cada uma das peças interpretadas uma preciosa jóia que se descobre com assombro e fascínio. Complementando-os, o alemão Händel e o italiano Corelli mostraram o quanto de fantasia e expressividade pode haver no estilo Barroco.
Cruzando as escolas italiana e francesa e a extraordinária produção musical de um período com tanto de extenso e fecundo, quanto de revolucionário e influente, quase se pode dizer que Leclair e Senaillé foram, de certa forma, os Paganini do século XVIII francês. Harmoniosamente rítmicas e dançantes, maravilhosamente elegantes, as suas sonatas encontram nas pessoas de Théotime Langlois de Swarte e William Christie dois ardentes defensores e executantes exímios. Apesar da enorme diferença de idades a separá-los, o cravista emérito, fundador e director musical de um dos mais notáveis e inspiradores projectos dos últimos quarenta anos, “Les Arts Florissants”, e o jovem prodígio do violino mostram-se unidos nesse desígnio de ampliarem o conhecimento em torno de um período musical luminoso e vivo, exaltando o seu dinamismo pujante, feito de grandes contrastes e de uma dramaticidade exuberante.
Para montar este programa, Théotime Langlois de Swarte leu todas as sonatas para violino escritas na França no início do século XVIII, na sua grande maioria inéditas. Quando descobriu a sexta sonata em sol menor do primeiro livro de Senaillé, rendeu-se em definitivo ao virtuosismo do compositor francês. Encontrando em William Christie o parceiro ideal para esta extraordinária aventura musical, os dois uniram esforços do qual resultou o album “Générations”, um milagre de cumplicidade, um genuíno e raro momento de prazer. A parte mais presente dessa experiência, a esplêndida face visível, trouxeram-na até Espinho, deixando o público maravilhado com excertos das obras de Senaillé (foi possível escutar a Sonata nº 6 em sol menor, e a Sonata nº 5, em dó menor e em mi menor) e de Leclair (Sonata nº 5, em lá maior, para violino e baixo contínuo, e em mi menor, para dois violinos e ainda extractos da Sonata nº 2, em fá maior), para além da sonata em ré maior, HWV 371 de George Frideric Händel e da Sonata em ré menor, op 5 nº 12 “La Follia”, de Arcangelo Corelli, que abriram e fecharam o programa, respectivamente. Um concerto memorável, feito de uma enorme paixão e que nos apresentou um compositor há muito tempo adormecido.
[Foto: FIME | https://www.facebook.com/fimespinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário