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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

CONCERTO: Estrella Morente | Orquestra Clássica de Espinho



CONCERTO: Estrella Morente | Orquestra Clássica de Espinho
Direcção musical | Sergio Alapont
48º FIME – Festival Internacional de Música de Espinho
Praça do Progresso, Espinho
30 Jul 2022 | sab | 22:00


Festa. Fiesta. Festa. Foi em ambiente de verdadeira f(i)esta que chegou ao fim a 48ª edição do Festival Internacional de Música de Espinho. Numa Praça do Progresso repleta de público, em noite de Verão, o programa prometia o melhor da música clássica espanhola do romântico tardio, na viragem do século XIX para o século XX. Escutou-se Joaquín Turina e Isaac Albeniz. Também Federico García Lorca, Enrique Granados e Gerónimo Giménez. Sobretudo Manuel de Falla, talvez o maior e o mais influente de todos. Tamanha exigência pedia uma grande orquestra e os mais de setenta instrumentistas da Clássica de Espinho mostraram-se particularmente inspirados. A tão extraordinária performance não terá sido alheia a direcção musical enérgica e segura de Sérgio Alapont, actual maestro titular da Orquestra Clássica do Centro e que já trabalhou com quase meia centena de orquestras de França, Itália, República Checa, Alemanha, Reino Unido, Dinamarca e Israel, entre outros países. Estrela entre estrelas, a cantora Estrella Morente emprestou ao conjunto a sua voz e a sua presença carregada de flamenco, ampliando a festa e tornando a noite inesquecível.

“Orgia”, terceiro andamento de “Danzas Fantásticas”, a obra mais popular de Joaquín Turina, teve o condão de agarrar o público desde o primeiro instante, tão intensa e viva se mostrou a sua interpretação em trechos alegres e carregados de lirismo. Já com Estrella Morente em palco, o espírito andaluz saiu reforçado com a interpretação orquestral de cinco das “Canciones Españolas Antíguas”, de Federico García Lorca. À conjugação harmónica da voz com a orquestra, acrescentou Estrella Morente uma enorme expressividade dramática, transformando em verdadeiras pérolas momentos como “Las Morillas de Jaén”, “Los Pelegrinitos” ou “Sevillanas del Siglo XVIII”. Seguiram-se excertos da “Suite Española, Op. 47 / Castilla”, de Isaac Albéniz, “El Sombrero de Três Picos / Danza Final”, de Manuel de Falla, “Goyescas / Intermedio”, de Enrique Granados e “La Boda de Luis Alonso / Intermedio”, de Gerónimo Giménez, quatro momentos de puro prazer que vieram tornar maior e mais emotivo o ambiente de festa e de celebração da música.

O melhor estava guardado para o final com excertos da ópera “El Amor Brujo”, de Manuel de Falla. Irrepreensível no papel de Candela, sensual e exuberante num négligé vermelho-sangue, Estrella Morente foi essa jovem cigana cuja relação com Carmelo é atormentada pelo fantasma de seu antigo amor. A cantora ampliou ao máximo o caráter andaluz da música, reforçando-o com o texto falado no dialeto cigano característico da Andaluzia. Profundamente intimistas, momentos houve que foram quase sussurrados, com o sublinhado cuidadoso e subtil do acompanhamento orquestral. Infelizmente, uma parte do público que se encontrava nas imediações do espaço do concerto revelou-se particularmente audível nestes momentos, perturbando enormemente os trechos mais contidos da obra. Pasodoble dos pasodobles, “El Gato Montés”, de Manuel Penella, foi a verdadeira apoteose, já no encore. Palmas a compasso, pares de dança formados espontaneamente e sorrisos rasgados em todos os rostos mostraram o quanto este concerto foi uma grande festa. Que venham mais edições do FIME e que, se não puderem ter um programa mais ambicioso do que o deste ano, pelo menos que o possam igualar. O público, reconhecido, agradece.


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