Enquanto projecto expositivo, “Primrose: um outro Porto Atlas” configura uma instalação da autoria de Manuel Valente Alves. A sua matriz reside em “Porto Atlas um livro de fotografia” (Edições Afrontamento, 2021) e estende-se para lá das suas páginas sob a forma de um vídeo cujo título dá o nome à instalação. Entre o livro e o vídeo perfila-se uma exposição de fotografia, espécie de corredor de passagem, simultaneamente elo de ligação e ponto de separação entre a imagem congelada e a imagem em movimento. É deste “núcleo” que gostaria de falar em primeiro lugar, não apenas pelo valor intrínseco das imagens, mas sobretudo pela forma como nos são apresentadas, “folhas de provas” agrupadas três-a-três, presas entre si e suspensas por fios que pendem do tecto. Em si mesmas, são um convite a que acompanhemos o seu movimento desordenado, perdendo-as e reencontrando-as ao acaso, por um capricho do vento ou graças às (muitas) mãos que não resistem a folheá-las.
As folhas levam-nos ao livro e o livro traz-nos ao Porto. Um Porto que conhecemos bem, onde diariamente nos movemos, que varremos com os nossos olhos, as mais das vezes sem o vermos. Um Porto desvendado em imagens, que não pretendem constituir-se em atlas da cidade (apesar do título poder sugeri-lo), antes se assumem como um roteiro “daquilo que se oferece e se passa num olhar contemporâneo, um registo de uma beleza inesperada, uma estranheza ou uma identificação com o que se passa nesta cidade, nos seus lugares de conveniência, as eleições de cada grupo, de cada recanto de encontro consigo mesmo, a mescla diária de gregarismo e individualização”, conforme as palavras de Maria do Carmo Serén, que podem ler-se na nota introdutória do livro.
“Primrose” é já outra história, outro canto. Outro encanto. O Porto de “Primrose” é “um Porto que vemos menos, olhamos menos e que, por isso, nos inquieta (…)”, conforme lemos na folha de sala que acompanha a exposição e que tem a assinatura de Manuela Matos Monteiro, curadora da exposição. Ante o nosso olhar desfilam imagens que, em si mesmas, compõem um manifesto de amor ao Porto, uma quase oração que nos fala de luz e sombra, de águas quietas ou mexidas, de folhas, ervas, flores, ramos e troncos, de céu e vento. Imagens que nos conduzem, também, “a uma viagem interior porque amaciados os lugares, desfocados os elementos, associadas realidades distintas em trama – como de associações livres se tratasse – convocamos os nossos cenários íntimos.” Para ver até dia 11 de Junho, nas galerias do Espaço Mira.
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