Falar do Sexteto de Jazz de Lisboa é falar de um agrupamento que, apesar das mais de três décadas de vida e de um largo interregno na sua actividade, mantém-se activo e a oferecer do melhor jazz que alguma vez se fez em Portugal. Formado em 1984, o sexteto afirmou-se justamente como um dos primeiros e mais notáveis grupos de jazz do nosso país, assumindo a profissionalização “a tempo inteiro”. Pela primeira vez, víamos surgir um grupo de jazz de constituição relativamente alargada e, acima de tudo, com uma frente de três instrumentos de sopro, constituído na altura por Tomás Pimentel (trompete), Edgar Caramelo (saxofone tenor) e Carlos Martins (saxofone alto). Os dois primeiros ainda por cá andam, tal como o pianista Mário Laginha, outro dos sobreviventes da formação inicial. Após algumas mexidas, Mário Barreiros substituiria Carlos Vieira na bateria e, um pouco mais tarde, Francisco Brito e Ricardo Toscano viriam a ocupar as “pastas” do contrabaixo e do saxofone alto, respectivamente. Foi justamente esta formação que esteve em palco no Centro de Arte de Ovar, naquela que foi a segunda noite do Ovar em Jazz 2022.
Recuperando os temas que fazem de “Ao Encontro” um álbum histórico – gravado em 1987, este trabalho foi publicado no ano seguinte e é o único álbum que o grupo produziu até hoje -, o Sexteto de Jazz de Lisboa ofereceu ao público de Ovar uma grande noite, não apenas porque em palco, “non stop”, estenderam o alinhamento para além da hora e meia, mas sobretudo pela qualidade das interpretações e pela robustez e energia do jazz tocado. Primeiro tema do concerto, “Véspera”, uma composição de Mário Laginha, foi marcante no que à linha melódica e rítmica o sexteto teve para oferecer. Poderosos, os metais definem o tema, deixando as variações por conta do piano, do contrabaixo e da bateria. A solo ou em grupo, regressam a espaços, reforçando o tema e acrescentando-lhe novas variações. Sem pedir licença, a música invade-nos e torna-nos cúmplices de uma viagem com ponto de partida e de chegada no interior, envolvente e intimista, de um clube de jazz. Em Copenhaga como em Nova Orleães, em Nova Iorque como em Nice ou Montreal.
“Raíz” e “Muda”, temas da autoria de Tomás Pimentel, perfilaram-se no alinhamento e foram a demonstração da qualidade compositiva deste músico e, ele próprio, líder de um septeto com o seu nome, onde pontificam, entre outros, músicos de enorme qualidade como João Paulo Esteves da Silva, Mário Franco, Alexandre Frazão e o já referido Edgar Caramelo. De resto, Tomás Pimentel ainda faria escutar outros três temas da sua autoria – “Descolagem”, “Opus” e o bem batido “4 + 3”, com as influências do Caribe a virem ao de cima. Os restantes temas tiveram a assinatura de Mário Laginha, com “Tradição”, “Uma Outra Gaveta” e o delicioso “Balada Para o Meu Filho”, e ainda o tema que fechou o concerto e cujo nome não consegui perceber. Da noite sobra um jazz intenso e vivo, interpretado por músicos onde a a mescla de juventude e veterania resulta em momentos de puro prazer. Mesmo sendo eu um indefectível de Mário Laginha e de Ricardo Toscano, difícil se torna destacar um deles, ou ambos, do conjunto. Todos tiveram a possibilidade de se mostrar a solo ou em grupo e todos eles foram sublimes. Mais um grande momento a marcar a primeira metade da presente edição do Ovar em Jazz.
[Foto: Ovar / Cultura | facebook.com/ovarcultura/]
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