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terça-feira, 26 de abril de 2022

CONCERTO: “Canções de José Mário Branco e Outras Cantigas”



CONCERTO: “Canções de José Mário Branco e Outras Cantigas”
JP Simões & Amigos
Auditório de Espinho
24 Abr 2022 | dom | 21:30


“Em tudo o que já fomos / Está o que seremos / No fundo desta noite / Tocam-se os extremos / E se soubermos ver nos sonhos o processo / Os passos para trás não são um retrocesso”. Foi com as palavras de José Mário Branco e desse belíssimo poema que é “A Noite” que Espinho começou a celebrar o Dia da Liberdade. JP Simões encheu de música e de festa o Auditório de Espinho, trazendo consigo, para além de José Mário Branco, os “eternos” Fausto, Chico Buarque e Zeca Afonso, também o vermelho dos cravos e o perfume de Abril. Longe dos seus melhores dias, o cantor teve de lutar contra os acessos de tosse que acabaram por limitá-lo nos agudos e por condicionar os momentos iniciais da sua prestação. Ainda assim, foi possível perceber o quão boa é a sua voz e o quão forte é a sua presença em palco. Para quem, como eu, nunca o tinha escutado, fica a vontade de não perder um dos seus próximos concertos.

Orgânico, intimista, o concerto começou com poesia e com poesia prosseguiu, marcando os acordes dos muito conhecidos “Inquietação” e “Fado da Tristeza”. “As Contas de Deus” foi um grande momento, as palavras a soarem como bofetadas – “Alguém que acorde esse país / Que pegue fogo aos álibis / De quem pensa que o dinheiro / Se gasta primeiro / Que o amor” – e a lembrarem-nos que “Resistir é Vencer”. Fez-se então um parêntesis na música de José Mário Branco e chamou-se José Afonso para cima do palco, mais o seu “Maio, Maduro Maio”. Viveu-se, então, outro grande momento, pontuado pela cumplicidade da guitarra de Nuno Ferreira e das percussões de Ruca Rebordão, enormes na forma como vestem as canções de sonoridades elegantes e harmoniosas, num convite ao seu desfrutar pleno. O regresso a José Mário Branco fez-se com um poderoso tríptico – “Do que um homem é capaz”, “Cada Dia São Cem” e “Perfilados de Medo” –, a poesia e a música de mãos dadas, ainda e sempre a inquietar-nos e a pôr-nos os sentidos sempre alerta.

Num breve salto ao outro lado do mar, escutámos Chico Buarque e o seu “Fado Tropical”, para de novo regressarmos a Zé Mário e à sua forma directa e livre de nos devolver esse extraordinário soneto de Camões que é “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”. “Mariazinha” foi outro momento exaltante, do qual se retém mais uma prestação emocionante de Nuno Ferreira. A fechar o alinhamento, o público foi brindado com a música de Fausto e com a sua poesia em “Lembra-me um Sonho Lindo”. Já no encore, JP Simões trouxe-nos “Alvoroço”, um tema seu que teve a particularidade de ser uma das músicas concorrentes ao Festival da Canção RTP em 2018, ainda que não tenha ficado para a história. Ainda bem que foi agora recuperada, a letra preciosa cantada no lugar devido, no momento exacto, a dizer-nos: “Calo-me com tanta conta / Juro, taxa, peditório, hipoteca / E pago por ter cão / E por não ter cão”. Muito longo e muito belo, “Eu Vim de Longe, Eu Vou pra Longe” fechou o concerto, lembrando-nos que Abril “É um lindo sonho para viver / Quando toda a gente assim quiser”.


1 comentário:

  1. Excelente artigo. O contar a história do concerto, de forma muito visual e expressiva.

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