Declarada aberta a 9ª edição do iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes, o dia de hoje foi dedicado à visita conjunta às exposições, com início na Casa da Cultura de Lourosa. Foi aí que cerca de meia centena de participantes se juntaram e começaram por apreciar a exposição “Morocco”, do brasileiro Leandro Martins, através da qual é possível sentir o ambiente de Jemaa el Fna, uma praça que é um mercado, uma feira de diversões, uma festa medieval, um auditório, um salão de dança, um zoológico, um hospital, um asilo psiquiátrico, uma “negação de edifícios que há 700 anos funciona como um íman para as várias raças do sul de Marrocos”. Poderosas, directas, impactantes, são imagens com sons e cheiros e cores fortes e vivas, fruto de um olhar atento e de uma grande delicadeza na abordagem a uma cultura em tudo diferente da nossa.
Etapa seguinte, o Parque Biológico de Gaia teve para oferecer três interessantes exposições, cujas temáticas apresentam uma forte ligação àquele espaço. “(Um Mundo) Às Avessas” marcou o regresso do cabo-verdiano Hélder Paz Monteiro a Avintes, e convida o espectador a desconstruir a imagem naquilo que tem de realidade e de ilusão. “A Importância das Florestas”, uma exposição colectiva de dez fotógrafos portugueses e outros tantos finlandeses, lembra que o mundo perdeu, nos últimos 30 anos, 178 milhões de hectares de floresta e pede a maior atenção para o facto de ela ser fundamental para o equilíbrio ecológico do planeta. Nélson Raposo oferece-nos o seu olhar sobre a biodiversidade subaquática costeira do mar dos Açores em “Além do Azul”, dando a possibilidade de apreciar detalhes de seres que por vezes passam despercebidos até ao próprio mergulhador.
Ainda antes do almoço, os participantes na visita às exposições - entre os quais se incluíam delegações da Finlândia, França e Estados Unidos - rumaram à Junta de Freguesia de Avintes onde tiveram a oportunidade de apreciar um punhado de belíssimos trabalhos do colectivo francês “Regards Parisiens” e sobre os quais falarei em detalhe num outro artigo a publicar entretanto no blogue. Nesse mesmo espaço, uma palavra para as imagens de Orlando Azevedo, outro repetente do iNstantes, num trabalho intitulado “Mestiço. Retrato do Brasil”. Tal resulta de uma viagem de 90.000 km através do coração do Brasil e que congrega um total de “450 retratos, em preto e branco, de brasileiros anónimos cuja grandeza e beleza está na sua mestiçagem”. “Rapa Nui y habitar la inmensidad”, do chileno Pablo Valenzuela, é outra exposição que se pode apreciar na Junta de Freguesia e que é a prova “de como a escala humana se apresenta contra a amplitude da paisagem que se perde no infinito.” Algumas centenas de metros mais à frente, no espaço da Fundação Joaquim Oliveira Lopes, o brasileiro André Ostetto Mota apresenta “Ritmos Urbanos”, viagem através das “pausas, vazios, simetrias e repetições” que caracterizam a paisagem das cidades, buscando uma coreografia das estruturas e redesenhando os espaços construídos.
Com o estômago reconfortado, os visitantes dirigiram-se à Casa da Cultura de Avintes, onde tinham à sua espera um conjunto de cinco exposições. “Nilo Blanco”, da argentina Ana Robles, leva-nos ao encontro dos Mundari, pastores nómadas do Nilo cuja cultura milenar resiste a pressões de toda a ordem. De João Ferreira foi possível (re)ver “O Paraíso Segundo José Maria”, uma das exposições mais intensas da edição de 2020 dos Encontros da Imagem de Braga e que nos leva ao encontro dos romeiros da ilha açoriana de S. Miguel. Numa belíssima série a preto e branco, Manuel Jó Pereira oferece-nos o seu olhar sobre uma “Viagem de Comboio a Vapor ao Pinhão”. De Augusto Lemos é possível ver um conjunto de imagens subordinadas ao título “Vamos a la Playa” e onde se percebe que, por muito distantes que possam ser de um ponto de vista geográfico, há muito de comum a ligar todas as praias do mundo. Há ainda para ver "DesArMarnos", da argentina Clara Delrio, conjunto extraordinário de imagens a preto e branco e que resultam de processos de procura e formulação de uma linguagem expressiva própria. Uma série a fazer lembrar “Lo Que No Ves”, o projecto de Sonia Señorans que foi, de um ponto de vista pessoal, a ponto alto da última edição do iNstantes.
O dia está a chegar ao fim mas há ainda algumas exposições a visitar. No Clube Recreativo de Avintes, Jorge Velhote apresenta “Coisas Mínimas”, conjunto de imagens poéticas e sensíveis, como “uma medida trazida pelo alento de uma voz inacabada”. No mesmo espaço, António Jota Gonçalves oferece-nos “Manhã no Museu”, um convite a visitar Serralves através do seu olhar e a desfrutar da “pureza do diálogo polifónico entre a luz e a sombra conduzido pelo mestre Siza.” Na galeria dos Plebeus Avintenses, o norte-americano Larry Dunn convoca outro nome grande da arquitectura mundial, Frank Gehry, mostrando a interacção e o jogo de luz nas superfícies de dois outros museus por si projectados: o curvilíneo e voluptuoso “The Museum of Pop Culture”, de Seattle, em contraste com o angular e austero “Stata Center”, de Cambridge (Massachusetts). Por fim, uma palavra para Nelson Marmelo e o seu “Pictures of an Exhibition”, que pode ser visto no exterior da Casa da Cultura e que reúne “fotografias e fotomontagens a partir de cartazes e de papéis desbotados e descolados pela acção do tempo”. Muito e muito bom para ver no iNstantes 2022, ao longo do próximo mês.
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