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sábado, 11 de dezembro de 2021

EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: "L'Empreinte du Geste" | Jean-François Fouilhoux


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EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA: “L’Empreinte du Geste”,
de Jean-François Fouilhoux
XV Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro
Galeria da Antiga Capitania do Porto de Aveiro
30 Out 2021 > 30 Jan 2022


“Gosto da argila. Comovo-me sempre quando vejo a marca dos meus dedos no barro. A argila memoriza o mínimo toque, guardando o movimento que lhe transmitimos. É imediato; a mais pequena variação e até hesitação deixam a sua marca.”
Jean-François Fouilhoux

À semelhança do pigmento e da parede da caverna, ou do lápis e do papel, o barro alia-se primeiro à mão, depois, ao corpo e a todo o tipo de ferramentas. O trabalho de Jean-François Fouilhoux desenvolve esta ideia: ele escreve no barro. Tudo começa com a criação de uma parede de argila na qual irá desenhar. O seu lápis? Uma lâmina flexível que vai curvando à sua vontade para desenhar um volume. Depois movimenta-o no interior da parede de argila que vai cortando ao mesmo tempo que desenha na sua superfície. No interior do barro o volume forma-se às cegas, apenas imaginado à medida que vai sendo criado. O artista vive esse volume, fruto de um traço de energia, de tensão, levado a cabo por um caligrafia, para, num gesto meditado, o sacrificar. Enfim livre, a marca do gesto reduz o todo à sua superfície, como se fosse pele ou uma folha.

A relação de Jean-François Fouilhoux com a argila é mais uma história entre o cheio e o vazio, recorrente na cerâmica. É isso que podemos constatar, apreciando os seus trabalhos agora expostos na Galeria da Antiga Capitania, peças obtidas a partir da moldagem e cozedura de grés branco e esmalte “celadon”. Criados ao sabor do gesto, arcadas, volutas, arabescos e muitas outras formas de variada complexidade encontram-se e travam entre si diálogos eloquentes, como elementos de uma coreografia cósmica única e irrepetível. Na sua busca pelo momento determinante, Jean-François Fouilhoux faz da sua uma obra de oposições e contrastes: a profundidade do “celadon” e a sua transparência, a forma como o esmalte trata a luz, a oposição entre o macio e o áspero, a leveza da argila, o finito e o inacabado, a curva e o ângulo recto. Feita de poesia, espanto, emoção, de rupturas inesperadas que despertam a suavidade da cor, as peças parecem existir para mergulhar o visitante no abismo do prazer.

Num movimento ascendente cuja origem se encontra no mais fundo da terra, “L’Empreinte du Geste” é um convite a uma viagem sensorial entre dobras, transparências e fissuras, sinclinais e anticlinais que abrigam a força do gesto que os determinou. O “celadon” funciona como um complemento perfeito na obra de Fouilhoux, conferindo-lhe uma sensação de doçura, uma impressão de profundidade infinita. Esta serenidade permite-lhe exaltar as tensões, uma certa dramaturgia em esculturas de linhas complexas, vivas e por vezes atormentadas. Perante cada uma das peças, percebemos esse ímpeto vibratório, o encontro do cheio e do vazio, de definido e do indefinido, um equilíbrio frágil que encontra eco na nossa condição humana. Como um elo que finalmente podemos tecer entre culturas, uma linguagem que cabe a cada um de nós decifrar e partilhar. A arte como linguagem universal. Que melhor coisa podemos querer?

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