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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

CONCERTO: NOPO Orchestra



CONCERTO: NOPO Orchestra
Misty Fest 2021
Auditório de Espinho
03 Nov 2021 | qua | 21:30


A história da NOPO Orchestra pode ser contada a partir do momento em que os passos da música levaram o norueguês Karl Seglem e o português Rão Kyao a cruzarem o mesmo caminho. Desde então, terão passado dez, onze anos, período de tempo ao longo do qual os laços entre os dois músicos se foram estreitando, as sonoridades aproximando e o desejo de partirem para algo em conjunto crescendo. Assim nasce a NOPO Orchestra, à qual o guitarrista português Francisco Sales vem dar um impulso fundamental. Apoiado na qualidade e inspiração destes três enormes compositores e intérpretes, o alinhamento do concerto da noite de ontem, no Auditório de Espinho, foi composto por doze temas, doze momentos de sedução e fascínio a unir os extremos norte e sul da Europa, a mergulhar no seu mais íntimo e a mostrar que os extremos, invariavelmente, acabam por se tocar.

Quanta magia pode abrigar-se no toque de um corno de cabra? Karl Seglem abre o jogo com o tema “Old Movement” (“Gammal Rørsle”, no original), respondendo à questão com um som envolvente onde cabem grandes extensões geladas, trolls desconcertantes, festas pagãs e auroras boreais. “Sunrise” e “Respeito pela Natureza”, composições de Francisco Sales e Rão Kyao, respectivamente, fazem deslocar o eixo geográfico para paisagens mais amenas, mais nossas, searas a ondular ao vento, ondas que se desfazem na praia, casas caiadas, o voo da cegonha. Mantendo as atenções centradas no meridião, “Alcalar”, de Karl Seglem, pisca o olho a paragens mais a sul, tendência que Rão Kyao e o seu “Em Aljezur” confirma, o oud, o âmbar e o almíscar a encherem o ar de fragrâncias orientais.

Marcadamente sensorial, o concerto foi balançando entre o Norte e o Sul, oferecendo o prazer de sonoridades a meio caminho entre a world music, a folk e o jazz. Sales, Kyao e Seglem mostram-se imparáveis. Os solos instrumentais sucedem-se, abrindo espaço aos restantes músicos e permitindo perceber a sua altíssima qualidade, bem como a enorme cumplicidade e envolvimento com este projecto. Erlend Viken no violino, Hallvard Gaardloes no baixo, Kaare Opheim na bateria e Ruca Rebordão nas percussões agigantam-se e dão ainda mais vida a St. Moritz, um tema de Francisco Sales, e Mahatma, composição extraída do último trabalho de Rão Kyao e que é uma homenagem a esse ser humano extraordinário que foi Gandhi.

Completamente rendido à qualidade da música e às imagens convocadas, o público pode ainda escutar duas composições de Karl Seglem, “Gå mot nord” e “Blå Botn”, “Festejando”, de Rão Kyao, “Sky”, de Francisco Sales, e ainda um tema composto pelos três, com a colaboração de Ruca Rebordão, intitulado “The Noposong”. No final da viagem, o conforto. Conforto pelo encontro e comunhão de géneros. Conforto pela celebração daquilo que nos une. Conforto pela mensagem de paz e esperança que a NOPO Orchestra sobre nós derramou. Naquela que foi a estreia absoluta desta formação luso-norueguesa, todas as expectativas foram ultrapassadas. Um concerto memorável.

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