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segunda-feira, 15 de novembro de 2021

CONCERTO: "El Amor Brujo"



CONCERTO: “El Amor Brujo”
Orquestra Gulbenkian
Direcção | Lina González-Granados
Concertos de Domingo
Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
14 Nov 2021 | dom | 12:00 


Os “Concertos de Domingo” da temporada 2021/2022 arrancaram ontem com um programa especialmente virado para a cultura cigana e espanhola. Dirigida pela maestrina colombiana Lina González-Granados, a Orquestra Gulbenkian apresentou-se ante um auditório praticamente lotado, interpretando com entusiasmo um conjunto de peças que tiveram na Suite de “El Amor Brujo” o seu ponto mais alto e que incluíram, ainda, obras dos compositores Camille Saint-Saëns e Maurice Ravel. Antes mesmo de darmos lugar à Orquestra, vale a pena começar pelo princípio e por essa “sinalização bacteriana” que uniu a Música e a Ciência numa apresentação brilhante de Karina Xavier, investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência. Foi um raro momento de conhecimento e aprendizagem, que tirou partido da linguagem musical para nos falar do quão frutíferas podem ser as relações entre bactérias e hospedeiros. E que nos deixou a reflectir sobre o futuro da própria Humanidade numa altura em que se percebe que há um conjunto de bactérias ameaçadas de extinção.

O “Prélude”, seguido do “Rigaudon”, duas das seis peças da suite “Le Tombeau de Couperin”, de Maurice Ravel, deu início ao concerto, visitando a atmosfera romântica de finais do século XIX e início do século XX (a obra foi estreada em 11 de Abril de 1919 e o seu sucesso foi tal que teve de ser bisada na íntegra). Persistindo na via romântica, “Introdução e Rondó Caprichoso, em Lá menor, op. 28”, de Camille Saint-Saëns, ocupou o espaço seguinte do programa. É sabido que Saint-Saëns tinha um enorme fascínio pela técnica encantatória do violinista Pablo de Sarasate, tendo esta peça sido criada com a sua exactidão e virtuosismo em mente. O solista em palco na Gulbenkian foi Cristian Grajner de Sá, apontado por muitos como uma das grandes estrelas futuras do violino e que acrescentou graça e encanto a uma composição absolutamente deliciosa. Grajner de Sá regressaria para a peça que encerrou o concerto, “Tzigane”, de Maurice Ravel, sendo obrigado a vir três vezes ao palco para receber as ovações do público, de tão tocante que foi a sua interpretação.

Falemos, enfim, da Suite de “El Amor Brujo”, a peça de maior fôlego do programa, que teve como solista a mezzo-soprano Maria Luísa de Freitas. Foi um momento recheado de fulgor e graça, que a todos seduziu. Partindo da lenda de um homem cigano que, depois de morto e tomado pelos ciúmes, boicota as tentativas da sua amada de encontrar um novo amor, Falla soube integrar a música tradicional espanhola na sua criação, contaminando as suas notas com os ritmos e os acordes exuberantes e de emoções extremas próprios do flamenco. Solista e Orquestra brilharam a grande altura, sabendo valorizar uma partitura de uma sonoridade deslumbrante, reforçada pelas melodias vindas do canto jondo. Uma peça que começou por ser o suporte de um bailado e se converteu num dos ícones da música clássica. O aplauso final é endereçado a Vera Dias, fagotista da Orquestra Gulbenkian que ontem assumiu o papel de comentadora e que tão bem nos soube deixar as “pistas” para a fruição plena de momentos intensos e envolventes de grande música.

[Foto: Leona Campbell | gulbenkian.pt/]

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