CONCERTO: “Elas e o Jazz” | Joana Machado, Mariana Norton, Marta Hugon
Ovar em Jazz 2021
Centro de Arte de Ovar
03 Set 2021 | sex | 22:00
Quase resistindo à tentação de estabelecer comparações ou juízos de valor, direi apenas que, no mesmo palco onde rodopiou a improvisação e o desassossego de um projecto como “Hundred Milliseconds”, de João Martins, se instalou a previsibilidade e a placidez de “Elas e o Jazz”. Vinte e quatro horas mediaram entre as duas apresentações e o choque foi grande. Não que “Elas e o Jazz” se mostrasse desprovido de valor e interesse, não que as vozes de Marta Hugon, Mariana Norton e Joana Machado não sejam de primeira água, não que os músicos que as acompanharam, João Pedro Coelho no piano, Romeu Tristão no contrabaixo e Joel Silva na bateria, não sejam executantes de créditos firmados. Apenas e só porque é de empolgamento que falamos quando falamos de “Hundred Milliseconds” e “Elas e o Jazz” é apenas “simpático”.
Foi a segunda vez que ouvi “Elas e o Jazz”. O momento anterior dera-se há dois anos, numa quarta feira de início de Outubro, na Sala Suggia da Casa da Música, no Porto. Lembro-me de um palco descomunal que as três vozes e os três instrumentos (na altura André Sousa Machado tomou conta da bateria) se esforçaram ingloriamente por encher. Sabia que Ovar lhes iria oferecer um palco mais consentâneo com a sua música, porque mais pequeno e intimista. Adivinhava que o alinhamento não mudasse substancialmente mas que houvesse mais afinação e entrosamento, o que veio a acontecer. Também acreditava que, apesar da pandemia, o disco que gravaram pelo meio tivesse aproximado intérpretes e músicos, daí resultando uma maior fluidez, mas aqui só Joana Machado prendeu a minha atenção pela positiva. Devo confessar, porém, que o sorriso final no rosto é de complacência e desconsolo. Como num “déjà vu”.
Foi tempo perdido? Não, não foi. Além do mais, como falar em tempo perdido quando as nossas memórias são brindadas com o que de melhor o jazz tem para oferecer? “Goldfinger”, da tripla Barry/Newly/Bricuse a abrir, “How High the Moon”, de Lewis e Hamilton a fechar e, pelo meio, inesquecíveis standards como “Anything Goes”, “Night and Day”, “Someone to Watch Over Me”, “Nice Work if You Can Get It”, “The Lady is a Tramp” ou “Devil May Care”, foram carícias aos sentidos. Revermos compositores da estatura de um Cole Porter, de um George Gershwin ou da incrível dupla Rodgers & Hart, e percebermos o quão imortal é a sua música, foi igualmente muito bom. E depois, na voz de Joana Machado, Mariana Norton e Marta Hugon, recordarmos Billie Holliday, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Etta James, Bing Crosby, Doris Day, Fred Astaire, Ginger Rogers, Peggy Lee, Anita O’Day, Dinah Shore, Frank Sinatra e muitas outras refulgentes estrelas do firmamento da Broadway, sabe sempre bem.
Sem comentários:
Enviar um comentário