CERTAME: Festival Literário de Ovar 2021
Ana Bárbara Pedrosa, Ana Cássia Rebelo, Ana Ferreira, Ana Sofia Marçal, Ana Ventura, Anabela Pedrosa, Bento Ramires, Bru Junça, Bruno Henriques, Carla Mühlhaus, Carlos Fiolhais, Carlos Marta, Carlos Nuno Granja, César Rodrigues, Cristina Marques, Daniel Lemos, Daniela Onis, Diogo Leite de Castro, Dora Batalim, Fernando Ribeiro, Fernando Soares, Joana M. Lopes, João Manuel Ribeiro, João Morales, João Tordo, Joaquim Jorge Carvalho, Jorge Ferreira, Jorge Melícias, José Saro, Judite Canha Fernandes, Licínio Pimenta, Luca Argel, Maja Stojanovska, Manuela Pargana Silva, Manuella Bezerra de Melo, Marcelo Teixeira, Maria Almira Soares, Marília Lopes, Marta Pais Oliveira, Minês Castanheira, Paulo Praça, Pedro Guilherme-Moreira, Pedro Podre, Rodolfo Castro, Rodrigo Guedes de Carvalho, Ruben Alves, Rui Guedes, Rui Manuel Amaral, Rui Pedro Lamy, Tânia Clímaco, Vasco Gato, Virgínia Millefiori, Wagner Merije
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08 Set > 12 Set 2021
A sétima edição do Festival Literário de Ovar chegou ao fim no passado domingo, o dia em que se cumpriram precisamente 150 anos sobre o desaparecimento do escritor Júlio Dinis. A manhã foi de festa com a inauguração da Biblioteca Júlio Dinis, na Escola Secundária com o mesmo nome, à qual se seguiram a entrega de prémios do Concurso Literário e de Ilustração “Júlio Dinis em Ovar”, uma Oficina de Ilustração por Anabela Pedrosa e uma mesa moderada por José Saro, com a Coordenadora Nacional da Rede de Bibliotecas Escolares, Manuela Pargana Silva e com Ana Sofia Marçal, rosto maior da Maratona de Leitura da Sertã. No recém-inaugurado espaço, houve ainda lugar a uma sessão de contos, com os quais Virgínia Millefiori encantou miúdos e graúdos. E foi ainda a figura tutelar de Júlio Dinis a fazer a ponte com o período da tarde, o Centro de Artes de Ovar a servir de palco a um conjunto de actividades diversificadas, a palavra de mãos dadas com o cinema, a fotografia, a ilustração ou a música.
A primeira mesa desta maratona de quase seis horas viu Vasco Gato e Jorge Melícias falarem de literatura, sob a moderação de João Morales. Foi um momento extraordinário de partilha, sobretudo pela luz que Jorge Melícias lançou sobre o mundo dos livros, pesem embora certas afirmações “politicamente menos correctas”. Falando de poesia, Melícias chamou a atenção para aqueles que confundem poesia com sentimento. “Poesia não é sentimento, é conhecimento”, disse, apontando o dedo ao poema “Na hora de pôr a mesa éramos cinco”, de José Luís Peixoto. “Quando quero emocionar-me vejo os “Contos da Lua Vaga”, do Mizoguchi, ou vou ao Prado ver o “Ixión”, do Ribera”, disse. Chamando a atenção para o “gritante empobrecimento da linguagem” nos nossos dias, o poeta lembrou que “a poesia não se faz com ideias, mas com palavras”, acrescentando que “essas palavras têm de ser duras”. Por seu lado, Vasco Gato referiu “a hipótese das palavras ou da linguagem abrirem portas, cadafalsos, para aquilo que não sei” como o grande motor da sua escrita.
A segunda mesa foi integralmente dedicada a Júlio Dinis, com três estudiosos do romancista à conversa: Maria Almira Soares, Ana Ferreira e Joaquim Jorge Carvalho. Moderada por Marcelo Teixeira, esta última mesa do Festival proporcionou momentos belíssimos, Maria Almira Soares a dar o mote com esta pertinente interrogação: “Como é que um ser tão melancólico, triste, constantemente ameaçado pelo estigma da tuberculose, pôde escrever uma obra tão solar?”. Uma observação que levou Ana Ferreira a citar Vítor Hugo: “A melancolia é a felicidade de se ser triste”. Baseando-se na sua própria experiência, Joaquim Jorge Carvalho afirmou que “para quem trabalha para criar hábitos de leitura, enquanto professor, Júlio Dinis é absolutamente precioso.” Maria Almira Soares deixou ainda uma observação plena de oportunidade e sentido: “São necessárias novas leituras de Júlio Dinis. Ele era um amigo da terra e dos que lhe eram próximos. Hoje enchemos a boca com o ambiente, com o salvar a Natureza. É por aí que temos de ir”.
A tarde ficou completa com a apresentação do “teaser” do documentário “Júlio Dinis em Ovar”, espécie de resultado preliminar da residência artística de Rui Pedro Lamy no Museu Júlio Dinis - Uma Casa Ovarense. Com o actor Pedro Damião a incarnar a personagem do escritor, o breve excerto que foi dado a ver traz consigo a promessa de um belíssimo trabalho, o cruzamento dos factos com a ficção a conferirem ao projecto consistência e interesse. Ainda antes de Paulo Praça e da apresentação de “Onde”, um trabalho que é, em simultâneo, livro, vídeo e concerto, coube a José Licínio Pimenta apresentar a edição comemorativa da novela “O Canto da Sereia”, obra que conta com ilustrações de Pedro Podre e um ensaio de Ana Ferreira. Ilustrador e ensaísta, juntamente com o editor Jorge Ferreira, deram o seu testemunho sobre os desafios que envolveram uma edição que pretende“dessacralizar e democratizar a obra de Júlio Dinis e o seu espaço”, tornando-a acessível ao público, conforme afirmou José Licínio Pimenta. Quanto a “Onde” e a Paulo Praça, a invulgar qualidade do trabalho apresentado merecerá apontamento à parte aqui no blogue.
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