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segunda-feira, 12 de julho de 2021

CONCERTO: Yamandu Costa - Encontro Ibero-Americano



CONCERTO: “Yamandu Costa – Encontro Ibero-Americano”
Festim - Festival Intermunicipal de Músicas do Mundo 2021
Cine-Teatro de Estarreja
09 Jul 2021 | sex | 21:30


O Cine-Teatro de Estarreja vestiu-se de gala para receber esse verdadeiro prodígio que é Yamandu Costa, considerado como “um dos maiores fenómenos da música brasileira de todos os tempos”. Revelando uma profunda intimidade com o violão, o artista correspondeu na íntegra às elevadas expectativas e, dando provas de um raro virtuosismo capaz de cativar até o melómano mais exigente, mostrou o quanto se transfigura à medida que vai vertendo magia de cada uma das sete cordas do seu instrumento. Mesclando o clássico e o moderno e abrindo a sua música em paisagens sonoras carregadas de sonho e emoção, Yamandu Costa teve em palco a companhia do bandoneon de Martín Sued – com quem gravou, no ano passado, o álbum “Visita Boa” - e da guitarra portuguesa de José Manuel Neto. Com tanto de improvável como de fascinante, este “Encontro Ibero-Americano” conjugou na perfeição o fado com o choro e o tango, mostrando que muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa”.

O concerto arrancou com Yamandu Costa, sozinho em palco, a homenagear dois dos seus compositores de referência: Lúcio Yanel e Raphael Rabello. No primeiro caso, com o tema “Luciana”, o violonista prestou tributo à sua maior influência, com quem conviveu de forma íntima e gravou o seu primeiro álbum, “Dois Tempos”, nos idos de 2000. Raphael Rabello surgirá um pouco mais tarde, numa altura em que Yamandu Costa buscava novos horizontes, que não apenas os da música folclórica do Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. É daí que vem “Cimarron”, o génio de Costa unido ao de Rabello, “o violão em erupção”. “Milonga de Mis Amores” viu Costa e Sued em palco, a cumplicidade entre violão e bandoneon levada ao limite, um toque de erotismo no entrelaçar das notas de ambos os instrumentos. Será com o tema “Porto” que José Manuel Neto se juntará aos restantes artistas, como que fechando um círculo que une todos os povos de todos os portos deste grande lago Atlântico. Entretanto, Yamandu Costa vai dedilhando o violão nos intervalos, acabando a confessar que “passa uma metade da vida a afinar o violão e a outra metade a tocar desafinado”.

Com “Limeña”, o ar encheu-se de ritmos andinos, para logo assentarmos arraiais na Ibéria, improvável “jangada de pedra”, com uma inspiradíssima composição de Eduardo Souto intitulada “Despertar da Montanha”. Sob o signo da inspiração, os trinados da guitarra e os gemidos do bandoneon aconchegados pelo vasto manto do violão, o concerto prosseguiu com “Quando Meu Filho Nascer”, um tema do mais recente álbum de Yamandú Costa, “Caminantes”, de parceria com Sued e Luís Guerreiro. Este álbum viria a estar na base do alinhamento do concerto, revisitando o dolentíssimo tema “Peregrim e Beignet” e o mexido “Lapa Hora Zero”, depois de outras duas interpretações notáveis: “Danzarin” e “La Partida”. “Milonga - Choro”, também do álbum “Caminantes”, parece ser a síntese perfeita entre os três estilos musicais que se evidenciaram ao longo do concerto. O final, apoteótico, deu-se com “Vira de Frielas”, um tema desse guitarrista ímpar que foi José Nunes, fazendo levantar o público das cadeiras num longo e entusiástico aplauso. O remate perfeito numa noite inesquecível.

[Foto: FIME - Festival Internacional de Música de Espinho | https://www.facebook.com/fimespinho/]

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